Há pessoas incapazes de desagradar a quem quer que seja. Por mais que pareça virtude, nem sempre o é. Concordar com um traficante ou com um frio assassino que o que ele faz é bom para a sociedade pode nos manter com vida e até agradar o bandido, mas não é cristão. Jesus deixa isso claro quando propõe aos discípulos que a fala deles na hora do sim seja sim e na hora do não seja não. E insiste que o que não for verdadeiro será do maligno. Quem aplaude um crime para agradar o assassino trai o dono da vida que ele tirou.
Por isso, a Igreja não pode ter medo de desagradar. Se tem que defender o feto ou alguém incapaz de se cuidar, ela o fará, a menos que pretenda trair o evangelho. O pregador que teme perder ouvintes, ou o cantor religioso que tem medo de ouvir vaias ou de ver alguns dos presentes irem embora por algum canto mais político ou mais questionador; por falar contra o aborto e alertar contra a mentalidade fácil pró-divórcio em certa mídia; se tiver medo de denunciar injustiças, terá aplausos, mas não estará pregando evangelho. Será passador de pomada ou distribuidor de sobremesa, mas não de alimento espiritual.
Pregador religioso deve ser gentil e delicado ao falar, mas se tiver que dar uma de Cristo, João Batista e João Crisóstomo diante de flagrantes injustiças, não terá escolha. Aconteceu com muitos papas, inúmeros bispos aqui no Brasil, e vai acontecer sempre, quando o tema é vida e alguém quer uma lei que permita extingui-la antes que passe da 7ª ou 14ª semana de gestação. Se o pregador se calar, por achar o assunto inoportuno naquele banquete, pecará por omissão. Se estavam levantando fundos para uma creche ou para um pronto –socorro infantil, aquela era, sim, uma hora excelente para falar, diante de deputados e chefes de partido, por cujas mãos acabam passando leis que permitem o aborto.
Pedir o direito de subir a um púlpito e ali falar apenas o que agrada é o mesmo que celebrar uma missa e mudar o evangelho daquele domingo, porque o prefeito poderia não gostar do assunto. Pensam que estou inventando? Aconteceu e quem me contou foi o bispo da região, decepcionado com o partidarismo do seu pároco, capaz de contrariar a Igreja, mas não o Partido do seu coração...
Pe Zezinho scj
1 de dezembro de 2007
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