28 de setembro de 2007

Vencer e perder em Cristo

Existe uma teologia da vitória, uma teologia da conquista e uma teologia da partilha. São modos de ver a ação de Deus numa comunidade. Modos certos e modos errados, porque também há teologias erradas. Leitura confusa!
Muitos adeptos da teologia da vitória se acham no direito de invadir outro povo, outra cultura, outras terras e lá, mandar, apossar-se e determinar o rumo daquela gente por achar que Deus lhe deu esta missão. Os certos são eles. Eles são a luz do mundo. Acham que Jesus disse aquilo para sua igreja e para o seu país. Deus quer que eles sejam número um em tudo. O mundo é deles. Foi isso que levou dois pregadores pentecostais de São Paulo a entrarem sem licença no Santuário Católico de São Judas e lá num momento de descuido dos padres, pregarem para os presentes como se tivessem esse direito. Tudo errado! O adepto da teologia da conquista admite que ainda é pequeno, mas o seu grupo é o eleito. Um dia o mundo todo vai orar, louvar e cantar e viver como eles. Seus templos encherão a face da terra. Um dia, eles ocuparão o primeiro lugar, porque são fiéis e Deus é fiel. O mundo ainda será deles. Acham que podem invadir o rebanho do outro, na convicção de que o outro não cuida bem daquelas ovelhas. Então elas são deles.
Os adeptos da teologia da partilha querem ser irmãos de todos, principalmente de quem mais precisa. Não se acham superiores a ninguém, nem querem o primeiro lugar, nem dizem que o mundo será como eles o imaginam e querem. Mantêm as suas convicções, mas sabem discordar sem perder o respeito. Nunca invadem templos nem terras dos outros. Entram tímidos pedindo diálogo. Aceitam aprender. São sempre ecumênicos que é uma das partilhas mais profundas que se possa imaginar: a da fé. Entendem que o mundo é de Deus, mas para todos e nunca será apenas dos que oram, dançam e pensam como eles. Deus lhes deu a graça de amar até os seus inimigos e os que desejam prejudicá-los Não estão em busca da vitória, mas do diálogo fraterno. Querem apenas um lugar ao lado do seu povo e dos outros povos. Deus determinará ao tamanho do lugar. Nunca se dizem mais fiéis, mais santos ou mais eleitos. Querem apenas ser santos e fraternos. Qual dessas teologias é a mais cristã? Que bom se todos os irmãos de todas as igrejas soubessem qual a resposta! A que sabe perder e vencer sem deixar de amar em Cristo!

18 de setembro de 2007

Igreja verdadeira

Um livro pode conter verdades e nem por isso ser verdadeiro. As outras passagens podem estar cheias de mentiras. Um locutor de rádio ou um cantor pode dizer algumas palavras em inglês e nem por isso pode afirmar que sabe inglês. O marketing contém verdades e nem por isso é verdadeiro. Se a equipe exaltar demais o produto de quem a contratou e se diminuir o produto concorrente, provavelmente estará mentindo.
Uma igreja pode conter verdades e nem por isso ser verdadeira. Se falsear os números, se omitir as passagens do livro santo que podem ir contra a sua pregação, se citar apenas as que lhe interessa, se mudar o sentido dos textos sempre a seu favor, se anunciar milagres sem submetê-los a exame acurado dos médicos e de outras cabeças, se encherem os fiéis de medo e de culpas, ou de falsa certeza, se ensinarem que a eles estão reservados os primeiros lugares aqui e na eternidade, podem até parecer verdadeiras, mas não são.
A Bíblia é um livro de verdades e, além disso, revela-se verdadeiro. Mostra o lado bom e o lado mau, os acertos e os erros da maioria dos seus personagens. Não faz marketing enganador ou maravilhoso de nenhum deles. Abraão, Sara, Agar, Isaque, Jacó, os filhos de Jacó, Rebeca, Moisés, Elias, os profetas, os reis, os apóstolos, de todos eles a Bíblia conta o lado bom e algum lado obscuro. Ou mandaram matar, ou se descontrolaram, ou puxaram mais para um do que para outro filho, ou mentiram para conseguir seus objetivos, ou se vingaram de maneira brutal, ou faltaram à palavra dada, ou quiseram ser mais do que os outros... Quem lê a Bíblia sabe disso.
Por isso, mostrar só o lado bom da nossa igreja e ocultar os pecados dos nossos, enquanto quase nos deliciamos em mostrar os pecados dos membros da outra igreja; mostrar em fotos e letras garrafais no jornal da nossa igreja os pecados de alguém da outra e nem mencionar a noticia de que um membro da nossa assassinou o colega num dos nossos templos é viver da mentira.
O que seria uma comunidade cristã verdadeira? Uma que faz mais do que contar algumas verdades. Uma que não faz uso da mentira para atingir os seus objetivos. O pregador que chamou a jovem para anunciar-se curada de um câncer naquele encontro de domingo e lhe deu três minutos ao microfone, mas negou-lhe, três meses depois, o acesso ao mesmo microfone para dizer que não tinha sido curada e pode pedir mais orações, mostrou de que lado está. O fiel pode anunciar que sua prece conseguiu o milagre, mas não pode anunciar que não o conseguiu! Seu microfone só vai à boca de quem mostra as maravilhas da sua igreja... Nesta busca desenfreada por novos testemunhos a meia verdade acontece mais do que imaginamos!

Pe. Zezinho scj

12 de setembro de 2007

Não adoro cruzes

Ele era de outra igreja e apostrofou-me à queima roupa:
- Você adora ou não adora cruzes? Sua Igreja até reza isso na semana santa!
Olhei com calma e disse:
-Se prometer não me interromper, eu explico.- Prometeu. Então eu lhe disse:
- Você tem carinho especial pela sua Bíblia. É justo que tenha. Aprende nela! Eu aprendo com a Bíblia e com a cruz. Esta cruz pequena aqui no meu peito eu não adoro, nem aquele enorme cruzeiro lá no morro, nem cruzes nas salas ou nas torres de igreja. São obras de marceneiros, carpinteiros e artesãos. Eu não poderia adorá-las porque são apenas objetos de devoção. Elas lembram Jesus mas Jesus não está nelas.
Mas, como você diz que adora Jesus, e que o sangue de Jesus tem poder e por isso mesmo adora Jesus entenderá que aquela cruz na qual ele morreu tornou-se especial. Eu nunca cheguei perto dela ou do que dizem que ainda existe dela. Então, eu recorro a símbolos. Aquela cruz única empapada com o sangue redentor do Cristo foi madeiro santificado. Se eu chegasse perto de um pedaço dela eu o beijaria com a maior reverência, em memória do sangue que escorreu por aquele lenho. Ao adorar aquele sangue do meu Senhor misturado ao lenho onde ele morreu eu estaria, sim, adorando tudo o que teve a ver com a morte dele por nós.
Quando digo que adoro a santa cruz não falo desta aqui, nem dos milhões de cruzinhas espalhadas pelo mundo. Estou pensando naquele sangue derramado numa delas e naquela cruz especial que foi testemunha do maior amor do mundo. Esta aqui que você vê no meu peito não teve o sangue dele a escorrer por ela. É simbólica e é sinal de gratidão. Esta eu reverencio porque aponta para a outra e para quem morreu na outra. A outra que eu nunca vi eu venero de maneira muito especial. Gostaria de chegar perto, ao menos da parte que dizem que restou dela! Se você soubesse que ainda existe o rolo da lei que Jesus leu e logo após anunciou sua missão, como você o trataria? Como um documento qualquer?
Olhou-me assombrado e disse: - Faz sentido! Você ama a cruz de Cristo porque ama o Cristo. Nós dois amamos a Palavra de Deus porque amamos a Deus!
De vez em quando, havendo tempo, a gente toma um café ecumênico na padaria de um senhor espírita...

Pe. Zezinho scj

7 de setembro de 2007

Tumores e embriões

O que está se formando dentro daquela mulher não é um tumor: é um embrião, não é um carcinoma, é um feto. Mais do que isso: o que se forma naquele útero não é apenas um embrião ou apenas feto, é filho embrião, filho feto. Não existe embrião ou feto que já não seja filho.

Quando, pois, alguém vota em favor do seu fim, votou em favor do fim de um filho. Não é um tumor, um excesso a ser expelido. É um filho já concebido. Ainda não cresceu o suficiente para viver fora da mãe, mas aquela mulher já é mãe. Mulheres não se tornam mães apenas na hora do parto. Nem um filho se torna filho apenas na hora do primeiro choro. E quem forneceu o espermatozóide para fecundar aquele óvulo já é pai, porque seu espermatozóide ao encontrar aquele óvulo por causa daquele encontro agora faz parte de um pequeníssimo novo ser em gestação. O espermatozóide o óvulo lhes pertenciam, mas o novo ser não lhes pertence. Se não sair de maneira natural não pode ser extraído. Ninguém é dono da vida do outro e aquele ser já é um outro que de ambos veio.

Por isso rejeitamos a idéia e a prática do aborto. É a morte de um ser humano em formação. Podemos até matar botões de rosa, mas não o botão de um ser humano que, diferente do botão de rosa, não está fora, está dentro da mãe.

O verbo é extrair. No caso do embrião ou do feto vivo extrair é impedir que ele se desenvolva e impedir que ele se desenvolva é matar. Neste país a ninguém é permitido matar um ser humano. Até quem mata ou maltrata um animal, a depender da circunstância, se pune com meses de cadeia. A punição é mais pesada quanto mais raro o animal destruído.

Agora, alguns brasileiros pressionam por uma lei que declare que o embrião ou o feto ainda não é um ser humano, mesmo que já tenha um coração. Querem que o governo e o congresso decidam que não é crime tratar um filho embrião ou filho feto como se fosse um carcinoma. Chegou na hora errada, já está incomodando e vai atrapalhar a vida do casal que não tinha planos para mais este ser humano na sua casa. Querem cortar o inconveniente pela raiz. Querem o direito de se amar como quiserem, gerar quando quiserem e se gerarem sem querer, querem o direito de não ter que dar o seu filho à luz . Querem pois que o Estado autorize um médico e matar o seu fruto ainda não dado à luz. Para muitos, era melhor não ter que fazê-lo, mas ter o filho seria pior.

Então decidem que não é filho: é só um feto.

Pe. Zezinho scj - padrezezinhoscj.com