25 de março de 2008

Páscoa, a grande passagem

Jesus não passou, exatamente porque soube passar! A frase pode soar confusa, mas foi a passagem dele da morte para a vida que fez com que Jesus não passe nunca, nem ele nem as suas palavras.

A vida é páscoa-passagem do bem para o mal e do mal para o bem, de um lado para outro, de igreja para igreja, de estado para estado e de vida para vida. Poucas pessoas ficam na mesma siituação. Mudam para a verdade ou para o erro, para pior ou para melhor. Para o ser humano as coisas mudam desde quando nasce até o seu ultimo dia. Algumas mudanças ele mesmo escolhe. Outras ele tem que assimilar porque independem de sua escolha.

Os judeus celebravam a passagem do mar vermelho, como quem venceu o período da escravidão e superou a dominação; era a passagem da vida na opressão, para a vida em liberdade. Não se trata, portanto, só de atravessar o mar ou atravessar o rio, ou de fazer uma mudança física. Trata-se de uma mudança profunda que faz toda a diferença: de escravos para homens livres, construindo sua própria pátria e sem ninguém exceto Deus a mandar neles . Para nós a Páscoa é a de um homem torturado, morto e sepultado, para um homem ressuscitado, provando que ele era quem disse ser: Filho de Deus. Ele predisse e cumpriu.

Para nós a festa da páscoa é vitória sobre a morte, sobre o pecado, sobre a escravidão. É festa de libertação de todos, festa de quem celebra o Senhor Jesus, como certeza de que a humanidade sobreviverá ao terrorismo que sob todas as formas a ameaça. Haverá um céu, um novo céu, e haverá uma Terra renovada e em paz. Crer na ressurreição de Jesus Cristo e, portanto, na páscoa – a passagem – é crer que o homem tem conserto. Não está tudo perdido, Jesus ressuscitou.

Páscoa da ressurreição são dois substantivos que a Igreja costuma colocar juntos, porque sabe que existem outras páscoas; a da infância para a adolescência; da adolescência para a juventude, da vida de solteiro para a união do matrimônio, da tristeza para a alegria. Todas as passagens de um estado de vida para outro, de uma situação de vida para outra, do pecado para a conversão, são páscoas. Quando a Igreja acrescenta o substantivo páscoa da ressurreição, está falando da passagem de Cristo da morte para a vida. É a passagem das passagens.

A Páscoa lembra que um dia será a nossa vez, de morrer e ressuscitar. São Paulo magistralmente analisa este acontecimento dizendo que, um dia, nós também ressuscitaremos com Cristo. É tudo meio obscuro, mas um dia vai ficar claro, só que teremos que fazer essa passagem e Paulo diz, com outras palavras. Não quero que vocês fiquem tristes, se lamentando pela morte. Porque nós somos chamados a uma vida eterna. Para ele a morte é apenas uma passagem, um túnel escuro, mas que pode ser iluminado pelas luzes da fé que certamente, vai nos conduzir para o outro lado dessa mesma estrada que é a vida. É profundo o pensamento de que, da ressurreição de Jesus nós derivamos a nossa ressurreição e da passagem de Jesus derivamos a nossa passagem. Um cristão não deve ter medo da morte. São Francisco a chamava de “irmã morte”. Também não se deve procurá-la. Quando ela vier será um momento de libertação. Seguro de que ele não vai cair num nirvana ou no aniquilamento, o cristão sabe que vai encontrar o seu Salvador Jesus Cristo e viverá nele e no Pai para sempre.

Deus nos cria uma vez e para todo o sempre. Não voltaremos ao nada, até porque não viemos do nada; viemos de Deus.

Cruzes que passam

Os católicos são formados na mística da cruz. Deveriam sê-lo. Se não entendem, alguém falhou na sua catequese. Não vemos em Jesus alguém que nos dá apartamentos, casas, emprego ou carro. Ele nos dá dignidade para administrar a nossa vida, sejamos ricos ou pobres. Jesus nunca prometeu livrar alguém da dor e da cruz. Ele mesmo pediu e o cálice não lhe foi tirado. Mas disse que devemos tomar nossa cruz e fazer como ele. Nossa religião não promete bens materiais e sucesso financeiro. Nem pode! Jesus disse que não veio para isso.

Algumas dores momentâneas nos libertam de dores futuras. Muita gente reclama da dor que está sentindo. Mas vai sofrer muito mais, se não passar pela dor que liberta. É o caso da extração de um dente, da extração de um tumor, ou da amputação de um pé. Aquela dor momentânea vai libertar a pessoa de dor permanente ou de dores piores no futuro. Existe, portanto, uma dor que liberta. Este conceito teológico da dor que liberta, entra na mística da cruz, que é também uma dor que liberta.

O ser humano não nasceu para viver crucificado. Em nenhum momento da sua vida ele é chamado ao martírio sem sentido. Toda a dor sofrida tem um sentido. É só questão de saber o sentido daquela falta de um braço, daquele pé mais curto ou daquele defeito naquela parte do corpo. Uma vez que aprendemos a viver com ele descobrimos que nem por isso, somos menos gente. Uma flor cuja haste se quebrou, continua flor. Uma águia cuja asa se quebrou, continua águia, mesmo se não consegue mais voar como as outras águias, mas não vira um réptil. Um passarinho que não canta mais continua passarinho, não vira cachorro. Na sua essência, mesmo não cantando, não voando, a ave continua ela mesma. A flor, mesmo machucada, continua perfumada e tem a sua beleza.

Quando damos importância excessiva à estética, esquecemos a ética. E é a ética que nos faz ser bonitos, porque a estética sem ética perde o seu sentido. Nenhuma beleza é digna de contemplação se não estiver acompanhada da estética junto à ética. É o porquê da beleza que torna a beleza importante, e não ela em si mesma. É o porquê da dor que torna a dor compreensiva e compreensível, e não a dor em si mesma. Para Paulo e para nós, a cruz só é loucura se alguém não crê. Para quem crê, ela pode ser libertação.

Foi Jesus quem disse que, quando fosse elevado da Terra, atrairia todos a Ele. E disse mais: “Quem não tomar a sua cruz e não me acompanhar, não vai ser digno de mim”. Tomemos cuidado com pregadores que garantem sucesso financeiro e o fim de todas as dores e sofrimentos. Cuidado com quem garante que naquela Igreja não se sofre mais. Se isso fosse verdade, nenhum dos discípulos teria morrido mártir. Teriam todos morrido em palácios e chalés na montanha e enriquecido com seus barcos e sua pesca. Afinal, ninguém foi tão fiel como eles. Como Jesus não prometeu riquezas nem sucesso financeiro, eles sabiam o que os esperava! Nunca ensinaram que ser de Jesus traz garantias de sucesso e solução de todos os problemas. É só ler a Bíblia com mais cuidado! Pregador que promete riqueza e bens materiais está blefando. Jesus nunca prometeu isso. O cêntuplo e a vida eterna não significam o dobro ou 100% mais bens materiais. Jesus nunca pregou prosperidade! Pelo contrário enalteceu o despojamento. Ele nunca disse que ajuntar bens e ter riquezas é uma bem aventurança. Disse o oposto!

14 de março de 2008

Os heróis da nossa fé

Quando o Dédo, garoto de nove anos me perguntou porque nossa Igreja fala tanto dos santos, perguntei-lhe quais os seus heróis preferidos e porque eles e não outros. Eram outros tempos e outros heróis. Falou-me de Batman, Tartarugas Ninja, He Man, Transformers e outros nomes que eu nem sabia que existiam na televisão. De cada um destacou algum valor que o fazia admirar aquele desenho. Ele sabia que era só fantasia. Com nove anos, dizia-me, tinha passado da idade em que as crianças pensam que Superman existe, mas era legal imagnar alguém poderoso que ajuda todo mundo.. Eram só umas histórias gostosas de imaginar.
Falei-lhe dos santos católicos dizendo que são heróis da fé e as histórias da maioria deles são reais. Aconteceram mesmo! A Igreja tem milhares deles. São velhos, jovens, casais, sacerdotes, reis, rainhas, ex-prostitutas, escritores, pensadores, monges, bispos, comerciantes; gente boa que em vida amou muito e seguiu Jesus. A Igreja mandou fazer imagens deles, publicou livros, dedicou templos a eles, porque queria que não fossem esquecidos.
Assim, sabemos que por volta do século XIII, houve um rapaz chamado Francisco e uma moça chamada Clara que com seus companheiros se apaixonaram por Jesus e criaram um jeito radical mas simples de viver. Redescobriram a pobreza e a simplicidade como virtudes.
A Igreja quer que nos lembremos deles. Assim foi, com milhares de pensadores, trabalhadores, políticos, religiosos. Ela os quer lembrados, porque servem de exemplo. Santo é alguém cuja vida deu certo. Provam que é possível seguir Jesus e viver como Jesus queria. Eram pessoas boas e felizes e cumpriram seus deveres. Sabiam conviver e viver. Viveram na graça, na pureza e na caridade.
Nós não os adoramos. O católico que faz isso está errado. Santo é um ser humano que se salvou e agora vive no céu, com Jesus, mas precisa pedir. Nenhum santo pode fazer nada por nós se Deus não o quiser. Acontece que, assim como na terra nós intercedemos pelos nossos familiares, eles no céu intercedem por nós, seus devotos. No céu se ora. Há igrejas que dizem que eles ainda não entraram no céu, mas estão sim. Nós ensinamos que estão e conseguimos essa certeza na mesma Bíblia que eles lêem. Tem muita gente já salva lá no céu! Quem chegou lá é nosso herói. Fazemos festa por eles, damos nome a templos em memória deles, sabendo que lá dentro estará Jesus num sacrário, como Jesus esteve no coração deles.
Aparentemente o Dédo entendeu. Vi-o algumas vezes diante do altar onde se vê uma imagem de São Francisco olhando para o céu. O Dédo olhava para o sacrário. Entendera!

Pe Zezinho scj