Os católicos são formados na mística da cruz. Deveriam sê-lo. Se não entendem, alguém falhou na sua catequese. Não vemos em Jesus alguém que nos dá apartamentos, casas, emprego ou carro. Ele nos dá dignidade para administrar a nossa vida, sejamos ricos ou pobres. Jesus nunca prometeu livrar alguém da dor e da cruz. Ele mesmo pediu e o cálice não lhe foi tirado. Mas disse que devemos tomar nossa cruz e fazer como ele. Nossa religião não promete bens materiais e sucesso financeiro. Nem pode! Jesus disse que não veio para isso.
Algumas dores momentâneas nos libertam de dores futuras. Muita gente reclama da dor que está sentindo. Mas vai sofrer muito mais, se não passar pela dor que liberta. É o caso da extração de um dente, da extração de um tumor, ou da amputação de um pé. Aquela dor momentânea vai libertar a pessoa de dor permanente ou de dores piores no futuro. Existe, portanto, uma dor que liberta. Este conceito teológico da dor que liberta, entra na mística da cruz, que é também uma dor que liberta.
O ser humano não nasceu para viver crucificado. Em nenhum momento da sua vida ele é chamado ao martírio sem sentido. Toda a dor sofrida tem um sentido. É só questão de saber o sentido daquela falta de um braço, daquele pé mais curto ou daquele defeito naquela parte do corpo. Uma vez que aprendemos a viver com ele descobrimos que nem por isso, somos menos gente. Uma flor cuja haste se quebrou, continua flor. Uma águia cuja asa se quebrou, continua águia, mesmo se não consegue mais voar como as outras águias, mas não vira um réptil. Um passarinho que não canta mais continua passarinho, não vira cachorro. Na sua essência, mesmo não cantando, não voando, a ave continua ela mesma. A flor, mesmo machucada, continua perfumada e tem a sua beleza.
Quando damos importância excessiva à estética, esquecemos a ética. E é a ética que nos faz ser bonitos, porque a estética sem ética perde o seu sentido. Nenhuma beleza é digna de contemplação se não estiver acompanhada da estética junto à ética. É o porquê da beleza que torna a beleza importante, e não ela em si mesma. É o porquê da dor que torna a dor compreensiva e compreensível, e não a dor em si mesma. Para Paulo e para nós, a cruz só é loucura se alguém não crê. Para quem crê, ela pode ser libertação.
Foi Jesus quem disse que, quando fosse elevado da Terra, atrairia todos a Ele. E disse mais: “Quem não tomar a sua cruz e não me acompanhar, não vai ser digno de mim”. Tomemos cuidado com pregadores que garantem sucesso financeiro e o fim de todas as dores e sofrimentos. Cuidado com quem garante que naquela Igreja não se sofre mais. Se isso fosse verdade, nenhum dos discípulos teria morrido mártir. Teriam todos morrido em palácios e chalés na montanha e enriquecido com seus barcos e sua pesca. Afinal, ninguém foi tão fiel como eles. Como Jesus não prometeu riquezas nem sucesso financeiro, eles sabiam o que os esperava! Nunca ensinaram que ser de Jesus traz garantias de sucesso e solução de todos os problemas. É só ler a Bíblia com mais cuidado! Pregador que promete riqueza e bens materiais está blefando. Jesus nunca prometeu isso. O cêntuplo e a vida eterna não significam o dobro ou 100% mais bens materiais. Jesus nunca pregou prosperidade! Pelo contrário enalteceu o despojamento. Ele nunca disse que ajuntar bens e ter riquezas é uma bem aventurança. Disse o oposto!
25 de março de 2008
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