25 de abril de 2008

O colo imenso de Deus

Os religiosos costumam tratar o Deus em quem acreditam, ou com reverência, ou com temor, ou com intimidade. Depende muito do conceito que fazem de poder, de amor e de justiça. Para nós vale a profecia de Oséias até nos pontos e virgulas. Nosso Deus e como pai que se inclina para conversar com seus filhos pequenos e, quando isso ajuda, faz por eles e os toma no colo.
Falar de Deus sem falar do seu colo é omitir o aspecto fundamental do amor de Deus. Ele nos ama profundamente e gosta dos filhos que criou, mesmo quando não correspondemos ao seu amor.
Acostumamo-nos com muitos outros cristãos a chamar o Deus em quem acreditamos, de Pai, porque a figura preeminente, em todos os tempos e na maioria dos povos e culturas foi sempre a do pai. Embora toda a responsabilidade, carinho, ternura e processo de educação dos filhos ficassem com a mãe, na maioria dos povos, a autoridade cabia ao pai. Nada estranho, portanto, que a maioria das religiões considere Deus um ser masculino e o chame de Pai. A palavra Deus é para nós um nome masculino, mas o ser Deus para nós não é masculino.
A evolução dos costumes e do pensamento universal está levando muitos grupos e religiões a dizer que Deus também é mãe. A partir do conceito de um Deus que não seja nem homem nem mulher e está acima de toda e qualquer figura, feição e contingência humana, toma vulto hoje idéia de Deus Pai-Mãe.
O radicalismo pode levar a atitudes não muito compreendidas, mas é interessante lembrar que não deixa de ser um progresso. Entendemos que Deus não é um ser masculino, como também não é um ser feminino. Ele está acima da masculinidade e da feminilidade. Por isso, há povos que, para designar Deus, usam uma palavra feminina, enquanto outros se fixam na palavra masculina ou neutra. Da mesma forma, existem povos para quem a palavra Terra é masculina, enquanto para outros ela é masculina. Os romanos usavam tellus e terra, os gregos diziam gaia.. Se nos acostumarmos com esta idéia de que Deus não é um ser masculino e sim, simplesmente Deus, compreenderemos a mística da paternidade e da maternidade, ambas vindas daquele que é pai e mãe, e cuida e ama, como todo pai toda a mãe deveria fazê-lo. Acostumemo-nos a imaginar Deus não como um ser humano, mas como o ser primeiro, para quem nenhuma forma ou descrição é suficiente. Pai imenso, pai-mãe imenso, Deus é amor. Chamando-o de pai ou mãe, o importante é nunca imagina-lo com rosto de gente. Ele é pessoa, mas não é pessoa humana. Seu colo, porém, que não é um colo humano, é infinito. Cabemos perfeitamente dentro dele: todos os indivíduos e povos que já passaram ou passarão por este mundo.

Pe. Zezinho scj

21 de abril de 2008

Orar e fazer política

Quando Jesus chamou Herodes de raposa, quando silenciou diante dele, quando enfrentou Pilatos e o seu poder de procurador, quando teve pena do povo com fome e fez alguma coisa por ele, quando enfrentou os vendilhões do templo, quando contou parábolas que questionavam os religiosos do seu tempo, quando defendeu os pobres, quando questionou duramente os ricos, estava fazendo política. Opinou sobre os governantes, respeitou ou enfrentou, mostrou o papel de um grupo religioso, pensou no momento e nas dores do povo e ensinou os seus seguidores a servirem os outros.
O mesmo Jesus que ensinou a orar, ensinou a servir e deixou claro que não veio para ser servido, mas para servir. Não quis dinheiro, nem fama, nem poder, mas quis ver a justiça acontecer, já no seu tempo. Uma leitura atenta dos evangelhos mostra Jesus não fechado nem sectário a querer melhorias para o seu povo. Não veio ao mundo apenas para orar e ensinar a orar. Não foi morto porque orava, mas porque enfrentou os donos do poder, porque exigiu justiça e propôs uma outra visão do ser humano e da religião do seu tempo. Nada mais errado do que ensinar que basta orar que Deus faz o resto. Não faz! Temos que fazer a nossa parte e a política pode se ruma forma de ajudar milhares ou milhões de irmãos. Depende da cabeça e da honestidade de quem a faz.
Jesus não foi um líder político, mas não foi também apenas um líder religioso. Foi irmão, foi Filho, foi libertador e amigo do povo. Mostrou Deus como Pai, mas mostrou o ser humano como irmão, com direitos, especialmente os mais indefesos a que ele chamava de pequeninos.
Soa, pois, estranho quando algum cristão afirme ser contra os religiosos se meterem com política. Não só podem, como devem. A historia do cristianismo e de todas as religiões do mundo está marcada pela política, bem ou mal exercida. E vai ser sempre assim. Os religiosos sempre se meterão na política, inclusive os que desligam a televisão na hora da propaganda, ou preferem ir fazer um sanduíche ou fritar pipoca durante a fala do presidente ou de um candidato. A decisão de não querer nada com política já é uma decisão política. Omitir-se e deixar que qualquer um se eleja e qualquer grupo assuma o poder é uma escolha política. Se não é possível viver sem tal escolha, então aprendamos a escolher e escolhamos direito!

Pe. Zezinho scj

8 de abril de 2008

A Ceia do Senhor

Algumas igrejas praticam a Eucaristia todos os dias. Outras, em alguns momentos da jornada. Todas merecem respeito. Não é a quantidade de vezes, mas a intensidade com que a vivemos que torna aquela mesa um lugar de solidariedade e de libertação.

Ceia ou refeição é experiência fundamental em família. A família que tem o ritual de se alimentar junta, tem muito mais chance de se entrosar melhor. Quando a refeições são pouco partilhadas, e comidas às pressas ou por entre gritos, as ceias se tornam conflitantes. Quando os alimentos são tomados por entre beijos, abraços e risos, a digestão é melhor e vale a pena estar juntos.

A expressão comensal é usada para alguém aquele que senta à mesa junto conosco. Entre muitos povos isto era sagrado. Hospedar alguém e dar-lhe de comer era ponto de honra. Agradava a Deus. Jesus mesmo utiliza parábolas que falam de refeição e de comer à mesa. Um dos gestos supremos de Jesus – como prova da sua presença continuada neste mundo – foi a última ceia.
Ele disse “Desejei ardentemente comer esta ceia, partilhar desta refeição com vocês, e será a última que eu como até a grande ceia no Reino dos Céus”. Ali, partiu o pão e deu aos discípulos e distribuiu vinho e disse “Tomem e comam, Tomem e bebam, porque isto é meu corpo e isto é meu sangue”. É como se Ele dissesse “Todas às vezes que tiverem saudades de mim, façam isso: partilhem o pão e o vinho. E neste gesto de quem partilha, vocês descobrirão um novo maná. Eu estarei presente entre vocês”.

Jesus transformou o sinal da refeição fraterna, num gesto sobrenatural, que torna as pessoas uma só família, irmãos partilhando os seus alimentos, e compartilhando o pão. Ele estaria presente sob as espécies de pão e de vinho, e manifestaria sua graça a todo aquele que viesse aprender a partilhar e partir numa ceia.

Por isso, para nós, a ceia chamada de eucaristia no sacramento, é sinal de Deus. Nós cremos que não é só teatro. Deus que tudo pode, envia seu Filho outra vez e nós oferecemos a Deus o seu Filho. E tanto é verdade, que a missa é toda dirigida ao Pai, pelos cristãos que oferecem a Ele o seu Filho, e em nome do seu Filho falam ao Pai. O Pai em nome de seu Filho, concede.
É fundamental entender que a missa não é dirigida a Jesus: ela é dirigida ao Criador e oferece de novo ao Criador o Filho que um dia ele nos deu, porque nós cremos no que aconteceu na última ceia. A missa é um gesto belíssimo, e nós católicos derivamos as nossas forças desses encontros ao redor da mesa sagrada. Porque cremos no pão do céu, é ele que nos incentiva a distribuir o pão da Terra.

Quem vai à missa e, depois, não luta pela justiça no seu país, praticamente não foi à missa, ou não a entendeu. Não acaba tudo naquela hora. Tanto é verdade que a ultima saudação é Ide em Paz, e o Senhor vos acompanhe. Em latim se dizia: Ite Missa est. A cerimônia acabou, mas o envio do missionário começa agora!

Pe. Zezinho scj