30 de julho de 2008

De formigas e de gentes

Eram 18,13hs de uma quarta feira. Na alameda por onde eu caminhava passava também uma pequena formiga carregando um enorme pedaço de folha seca. Evidentemente calculara mal. Não conseguia levá-la. Sou daqueles que meditam sobre os mistérios do céu e da terra, tentando tirar lições de toda e qualquer vida que possa me ensinar alguma coisa. Tomei tempo e fiquei a observá-la. Ela caiu umas vinte vezes. Havia ventos contrários demais para a pobrezinha. Rodava em círculos. Parecia procurar ajuda. A meu ver estava perdida, assustada, cansada confusa. Abocanhara mais do que conseguiria levar. Talvez fosse uma formiga capitalista... Para minha lógica de humano, era mais um ser que abocanhara mais do que deveria e poderia levar.

Não deu outra! Olhei de longe para não atrapalhar. Uns dez minutos depois, ela abandonou a folha num determinado lugar, acelerou a marcha, livre do pesado fardo e foi em linha reta numa direção, que agora parecia conhecer. Fui atrás, de longe. Trinta metros adiante, lá estava o carreiro de formigas, cada uma delas com o seu fardo, nenhum deles tão grande como o dela... Na minha lógica de humano, pensei que fora buscar reforço. Pareceu confidenciar com duas delas, também sem fardos. Cheguei a pensar que viriam ajudá-la. Qual nada! Ela entrou na fila e desapareceu no formigueiro sem o fardo.

As perguntas me vieram à cabeça. Porque todo aquele esforço? Porque uma folha dez vezes maior do que ela ? Porque deixou a folha? Porque foi procurar as amigas? Porque voltou sem nada? Porque desistiu? Será que voltaria para buscá-la num outro momento? Desanimou para sempre? Acho que jamais saberei as respostas. Talvez sejam perguntas tolas... Nem tanto! Considerando a vida de milhões de pessoas encontro enorme semelhança.

Milhões de humanos também buscam por conta própria fardos enormes, empréstimos, amores e relacionamentos que depois não conseguem levar adiante e abandonam tudo, sem dar a mínima aos envolvidos. Não tenho o direito de julgar ninguém, mas a verdade é que muita gente abocanha mais do que pode, faz um forrobodó para ter o que quer, para mais tarde descobrir que foi demais para sua capacidade. Zanzam, machucam-se e sofrem como aquela formiga e, quando não dá, não dá! Partem para outra, coma famosa frase: -“Não me arrependo de nada do que fiz”...

Pois é... O que houve com aquela formiga eu não sei. Também não sei o que se passa num coração que se cansou. O Deus que criou as formigas e os humanos sabe. Formigas e humanos se parecem mais do que a gente pensa!...

Pe Zezinho scj

23 de julho de 2008

Em busca de Tua Paz

Perplexos e feridos meus pensamentos e meus sentimentos mergulham no infinito mar da tua misericórdia. É tua paz que eu procuro: paz que o mundo não sabe nem tem para me dar. O mundo me dá conforto, sucesso, prazeres, dinheiro e algum tipo de vitória e de sorriso, se eu me sujeitar às suas leis e às regras do seu jogo nem sempre honesto e decente. Mas, paz, ele mais tira do que dá.

Mergulho até onde meu coração agüenta e sabe ir. Comigo, um milhão de perguntas não respondidas. Que paz eu tenho? Que paz eu quero? Que paz eu transmito? Que tipo de paz estou vivendo?...

Procuro vislumbrar-te como Javé, aquele que é quem é, o ser primeiro, o ser essencial, o incomparável, o inigualável, o inacessível, o inescrutável, o santo, o inatingível. E tu te revelas Shekinah, o que se manifesta, aquele que vem nos ver , monta sua tenda entre nós , o que dialoga, o que se aproxima, o que abre o diálogo.

Tendo traduzir isto em palavras e dou de cara com os conceitos de fraternidade, partilha, santidade, justiça, misericórdia e perdão. Não é possível crer em ti e proclamar-te Criador se a gente não acredita na tua obra. Sem igualdade, direitos humanos, valores humanos, justiça para todos, perdão e misericórdia para quem os busca , pão repartido e sem um profundo respeito pela sacralidade de cada vida e cada pessoa que passou e passa por este mundo não se pode falar de paz. Se o outro não for sagrado, se eu não for capaz de ver valor e beleza nos outros humanos então não experimentarei o dom da paz. Ela vem de um grande outro e passa necessariamente pelo outro. Sem os outros não vai haver paz na terra.

Desde o primeiro dia em que o ser humano deixou de ser sagrado a história registrou isto que hoje nos assusta. Acabou o paraíso. Sangue por toda a parte, armas em todos os cantos , setas em qualquer aljava, facas em qualquer cintura, bombas que matam milhões, metralhadoras que matam dezenas, corrida armamentistas, crimes horrendos, armas atômicas, armas químicas, venenos letais, drogas traiçoeiras, população armada até os dentes ou tremendo de medo , bandidos organizados em facções poderosíssimas, donos de arsenais assustadores, rindo na cara das autoridades e o cidadão comum, crime dos governos, crimes dos marginais, a morte institucionalizada e internacionalizada, dada como espetáculo nos filmes e na televisão, cabeças e corpos que explodem, lanchas e aviões em fogo , ódio nos rostos , crianças brincando de matar-se, filmes de terror, gente com medo de sair à rua, grades e câmeras por todo o canto, vigias eletrônicos, carros blindados, armas que matam cada dia com mais precisão, medo de viver, medo de morrer, medo de amar, medo de falar, medo de ir, medo de vir, medo de crer , medo de expressar-se. Ninguém viu, ninguém reage, ninguém fala.

Milhões de matrimônios desfeitos, crianças a esperar as visita do pai ou da mãe no fim de semana, porque o pai tem outra e a mãe tem outro. Não dá de ficar juntos. Individualismo exacerbado. Primazia do eu sobre o nós. Egolatria. Desrespeito às leis, gente tratada como lixo, velhos e crianças abandonadas, fetos extraídos de um ventre com a mesma tranqüilidade com que se extrai um tumor indesejável e maligno, religião usada para se chegar ao poder econômico e político, dinheiro,prazer e poder a qualquer preço,mentira institucionalizada, sexo, cultura, corpos e fé vulgarizados.Vale qualquer coisa para se chegar à fama, ao dinheiro e ao poder nem que seja despindo-se diante de milhões ou aceitando a uma jaula virtual cercada de câmeras para deleite do big brother que não é ninguém e é todo mundo . Todo mundo quer o direito de ver qualquer coisa e há quem queira o direito de mostrar, não importa quais as conseqüências. Nada é mais importante do que aquele dinheiro, aquele emprego, aquela carreira, aquele pedestal, aquela igreja,aquela tribuna e aquele palanque. Tu, Deus, ficaste pequeno para eles. Tiraram o D e o S de teu nome e adoram o que sobrou.

Cheio de pequenos deuses da mídia,da fé, do dinheiro, dos esportes, do espetáculo o mundo criou religiões e adoradores da eficácia , do imediatismo, do resultado e do sucesso, que inventam seus milagres , suas palavras , seus profetas, seus evangelistas, seus dogmas e sua própria moral. E para que tudo dê certo, não hesitam em sacrificar a pessoa e sujeitá-la às leis do mercado que passa a ser o dogma mais inquestionável de um mundo que se rege pelo lucro e pela mais valia.
O primeiro dos dogmas é: Quero todos os meus direitos e não aceito deveres difíceis de cumprir. Não mexa com meu trono de indivíduo. Não me reprima porque não aceito limites para meus sonhos. Nasci para vencer e, se alguém tem que ser derrotado, que este alguém seja um outro, não eu, que seja uma outra igreja não a minha, um outro time ,não o meu ,um outro banco, uma outra pessoa. Deus me fez um vencedor e eu vencerei custe o que custar para mime para os outros, principalmente para os outros. Criamos indivíduos enchentes, patrolas e tratores , dos que levam tudo o que está pela frente e vivem a vida ou até a sua fé como ato permanente de guerra.

Pessoas sem quase nenhuma mensagem a dar apossam-se dos meios de comunicação e até de púlpitos e enchem o povo de anti mensagens. Não admira que haja guerras causadas por religiosos. PÚLPITOS agressivos, palcos agressivos, tribunas agressivas, câmeras agressivas transformaram o mundo em campo de batalha e de conquista de novos adeptos, novos espectadores,novos ouvintes e novos fregueses. Para chegar a eles vale a mentira, a meia verdade , os índices de audiência, os truques, a fábrica de ídolos, a industria do sexo, da diversão, do prazer e de novas casa de salvação pessoal, a industria da droga, industria do espetáculo, invasão e evasão da privacidade, gente desesperada em busca de fama, dinheiro e poder.

Violência transformada em espetáculo, câmeras indiscretas invadindo a casa e a vida dos outros, pessoas procurando expor-separa ganhar fama e dinheiro... Gente com câmera na mão, procurando o direito de mostrar tudo, em busca da imagem querendo o direito de mostrar qualquer imagem não importa quem esteja do lado de lá. Inversão de valores, pregadores do nada. Juros lucros internacionalizados, dinheiro internacionalizado, trabalho internacionalizado, desemprego internacionalizado. Nossas ordens e comandos que costumavam vir de dentro agora vêem de fora. Um país do mundo se arroga o direito de ser polícia mundial, e impor seus projetos porque tem todo poder, os poucos outros países lhe dão subsídio e 95% dos países do mundo ficam a margem das decisões porque não tem dinheiro nem poder bélico. Os pobres cada dia mais marginalizados, a fome cada dia mais aguda e milhões condenados a morrer,na porque não existe comida, mas porque existe quem decide para onde vai o alimento, não porque não existe o dinheiro mas porque poucos decidem para onde vai o empréstimos e nunca na mão do pobre que precisa dele; empresta-se dinheiro para quem já tem e pode pagar; deixa-se morrer povos inteiros como ratos porque não é do interesse político salvar aquele povo; políticas cruéis impedem que o remédio chegue aos que morrem lentamente de aids ou outras enfermidades. Superexposição da nudez da mulher, a banalização sexo, banalização da arte, banalização da fé.

Os sérios comprometidos com o social são desmoralizados, principalmente porque ousam criticar os sistemas que se apossar do governo do mundo. Para não falar de religiões e religiosos que se associam a este poder, porque acreditam que só com dinheiro poderão anunciar o seu Deus.já não sabem mais se adoram a Deus ou dinheiro que se consegue nos cultos. O dinheiro tem se tornado o dono e o padrão do mundo. E é por causa dele, que vemos o crescimento de todas as indústrias de tóxicos, de armas, de sexo, de diversão e de mortes encomendadas.Viver tornou-se uma aventura perigosa na maioria dos países do mundo.

Já tivemos muito mais paz, já vivemos muito mais em paz e já acreditamos muito mais no valor da pessoa humana. Houve o tempo Senhor,em que vizinhos eram fraternos, as pessoas se preocupavam umas com as outras, não havia cercas nem muros nem vigias eletrônicos, não era preciso, não havia tantos ladrões. Mesmo os pobres, eram mais ajudados e não caíam no crime. Aceitava-se a pobreza, porque havia uma certa dignidade na pobreza. A medida que ricos ficaram mais ricos e os pobres ajudou-se menos, fecharam-se nos seus juros e correção monetárias, nos seus shopings e supermercados e foram morar lá em cima! E o pobre não teve nem chance de passar na sua porta para pedir um pedaço de pão ou uma ajuda. Isolou-se o rico do pobre, foram morar em grandes vilas onde o pobre não entra nem para pedir esmola. Continuaram a pagar bem pouco para seus funcionários trabalhadores. E enquanto faziam cada dia mais dinheiro, pagavam cada vez menos.

Os filhos dos pobres começaram a ir para as ruas, até porque ficava insustentável morar naqueles cubículos miseráveis, para onde foram empurrados, na rua aprenderam a se defender como ratos de porão apareceu o traficante que potencializou seu desespero e sua revolta e droga ajudou a fazer mais bandidos e mais pessoas raivosas e alienadas. Os sem nada começaram a se organizar para tirar um pouco ou muito dos com tudo, e os com tudo recorram a polícia ao invés de compreender que precisavam recorrer a mais empregos da e a distribuição de pelos menos parte de seus bens.

O verbo repartir tem sido substituído pelos verbos proibir. Criamos um estado policial enquanto que, os revoltados criaram seu estado policial paralelo. Teimamos em acreditar que as armas e a violência do estado ou dos poderosos controlaria a revolta ou a violência dos povos machucados a violência do de mais, chamou a violência do de menos, hoje as guerras não são nem mais ideológicas, é a guerra de quem não tem contra quem tem, e a guerra de defesa de quem tem contra quem não tem e quer mais. É assim com os povos ricos que não deixam os povos pobres subirem e assim com as pessoas ricas que não sabem o que fazer em favor dos pobres. As religiões ontem tinham mais poder e capacidade de defender o pobre, algumas delas até abandonaram isso, aliaram-se aos ricos. Seus projetos também, são de mais dinheiro e mais poder, sobraram muitos religiosos idealistas que ainda acreditam em viver pelo pobre, defender o pobre e lutar pela justiça social. Mas essa palavra está ficando feia Senhor, defender direitos humanos hoje tornou-se super perigoso, porque esta confundido com a defesa dos direitos do violento.

Uma sociedade poderosa que detém meios de informação joga no ar calúnias e críticas contra religiosos ou políticos idealistas que ousam defender o direito dos pobres, o direito do acesso a cultura, o direito do acesso a terra. Qualquer gesto em defesa de quem precisa de um pouco de terra, qualquer gesto em defesa de quem precisa de um pouco de pão ou de um lugar para morar, de repente aparece nos meios de comunicação e a até seria como um disfarce como aliar-se a baderna e a violência. Acontece que as instituições da maneira como são geridas não favorecem o pobre e não favorece os com fome.

O dinheiro sem coração apossou-se do mundo e trabalho perdeu seu valor, a pessoa humana perdeu seu significado. Somos um mundo estéril. Produzindo idéias estéreas em favor de dinheiro histérico, o que dá hoje também uma pobreza revoltada histérica, e um nascimento de um fanatismo religioso e político também histéricos e com ganas de matar e destruir.Parecemos aqueles loucos famintos que disputa a presa e um deles certamente vai comer quietinho no seu canto, enquanto outros o protegem contra a matilha mais fraca. Quem pede sua parte se protege de todas as maneiras, mas repartir ele não reparte e se duvidar vai tirar ainda o pouco que o outro conseguiu. Parecendo lobos e cães isfomedados disputando os bens do mundo, cada qual no seu canto mordendo-nos, incapazes de consenso e diálogo. Até porque há sempre alguém que rompe o diálogo e o consenso e dá um jeito de fazer como ele quer.

Afinal, tem as armas, o poder e a economia do seu lado. Que vai impedi-lo de conseguir o que ele quer? É a lei do cão, a lei do mais forte.

Pe. Zezinho scj

13 de julho de 2008

Tiraram o "D" e o "S"

A presença de Deus no mundo anda ameaçada. Vi tempos atrás num muro de loja uma brincadeira de mau gosto. Onde se lia: “Vende-se sapatos” alguém apagou as letras iniciais e, de longe, o que era loja de sapatos parecia uma casa de patos. Descaracterizaram a loja. Trabalho de moleques.

O que andam fazendo com Deus ultimamente é a mesma coisa. Preste atenção nos pregadores das mais diversas igrejas e no discurso de alguns políticos e apresentadores de televisão. Com enorme facilidade atribuem à vontade de Deus o que é vontade deles. Observe o que dizem:
- “Deus quer, Deus me disse, Deus espera isso de vocês, Deus mandou dizer... Esta noite Deus me falou... Demos uma nova obra para Deus. Deus quer este templo! Se nos ajudarem estarão ajudando a Deus...

O comediante acaba de contar a piada mais suja e diz que jura por Deus. Brinca-se com o nome dele em toda a parte. A moça que acabou de posar nua para PlayBoy diz que, graças a Deus, aquilo lhe abriu as portas e a revista vendeu muito. O outra diz que Deus a ajudou a comprar um apartamento com o dinheiro que ganhou posando nua. O outro garantia que ao aderir àquela igreja ganhou de Deus uma loja, um carro e uma casa na praia, tudo porque pagou o dízimo para Deus.

A conclusão é óbvia, Ou Deus mudou e já não faz mais questão de tudo aquilo que em milênios foi ensinando, ou cedeu ao marketing e anda ajudando quem dá mais para determinada igreja, ou para quem mais usa o nome dele, sem exigir nada mais do que o marketing. Ou ainda, o que parece o mais óbvio, tiraram o D e o S da palavra Deus e o que sobrou anda se fazendo de porta-voz dele.

Nós pregadores precisamos tomar muito cuidado no uso do nome de DEUS. Sem o perceber andamos suprimindo o D e o S. Tem “eu” demais na mídia. Preste atenção em certos programas e conte quantas vezes o animador usa seu nome e a palavra eu... Também entre os religiosos. E ainda dizem que fazem aquilo para a glorificar o Senhor… Será?

Pe. Zezinho scj