24 de outubro de 2008

Triste perspectiva

Depois de mais de um século sem significativos conflitos de fronteiras ou ingerência entre paises vizinhos, a América Latina começa a costurar um perigoso cobertor de ingerência, guerra e violência. Bastaram alguns homens irados para que todo o Continente comece a coçar as barbas e a cabeça.
De um lado, povos como os colombianos, que há anos, convivem com uma impiedosa guerrilha, regada a seqüestros e cocaína. O governo responde com igual violência. Do outro lado, os simpatizantes da esquerda ou da direita, outra vez em guerra aberta, ainda que não declarada por território e influência. Entre eles, governos que, com violentas palavras na mídia e, pouco a pouco, passos firmes em direção ao conflito, buscam outras hegemonias e outras geopolíticas.
Queremos novas guerras e guerrilhas no continente? Não servem como lição os conflitos de fronteira na África e os fomentados por pequenos ditadores em busca de notoriedade e espaço para os seus sonhos de hegemônia? O pouco progresso que a América Latina conseguiu para melhorar a vida dos seus pobres será, outra vez, desperdiçado em armamentos, porque pequenos ou grandes ditadores se decidiram pelo confronto? Seus ódios pessoais prevalecerão sobre a paz que, a duras custas, a América Latina gozava nas suas fronteiras? Quem será o próximo inimigo? Qual há de ser a próxima invasão? Em que país. Quem fornecerá o dinheiro e as armas? Que tipo de esquerda ou de direita as comandará? Queremos aqui o quadro do Oriente Médio?
Quem ouve Chaves e alguns de seus admiradores já sabe o que esperar. Com todos os seus limites e com sua verborragia é melhor ouvir o Lula e a diplomacia brasileira. Guerras, invasões e disputas por hegemonia são o que menos interessa ao Brasil emergente de agora. Gastaríamos a estabilidade que tanto nos custou, em adquirir ou fabricar armamentos. Melhor é conversar até à exaustão. Que falem os diplomatas em suas gravatas e silenciem os ditadores com as suas bravatas.

Pe Zezinho scj

Lindemberg, Eloá e Nayara


Foi triste. É sempre triste. Semana após semana lemos ou vemos que um jovem matou o outro, um jovem foi destruído pela fúria de outros. Agora ficamos sabendo que um rapaz de 19 anos começou a namorar uma menina de doze. Três anos depois fez o que fez! Os pais nem sempre concordam, mas, no tipo de sociedade que construímos, é cada dia mais comum que uma menina teime em namorar. Os pais não sabem mais o que fazer. Se proíbem, há tempo quente em casa. Se permitem, o tempo às vezes esquenta lá fora. Não é uma sociedade serena.

O que sabemos é que um rapaz, ou enlouqueceu, ou perdeu o chão por algum distúrbio que se revelou mais do que paixão de jovem. Tem mais a ver com a perda de poder do que com a perda de um amor. O menina ficou adolescente e deve ter descoberto que não lhe servia mais aquele relacionamento de namorado dominador. Já não era mais enamoramento. Era domínio. Ela se abriu para outra possibilidade, direito legítimo de qualquer adolescente.

Pelo que sabemos, ele armou-se de ira e de munição. Não aceitou ser contrariado. Segundo se viu, seu passo foi premeditado. Foi ficando cada vez mais irado e mais acuado. A amiga Nayara bem que tentou negociar. Até voltou ao cativeiro de onde saíra, esperando salvar a colega adolescente. Com mais ela lá dentro, quem sabe ele não mataria a Eloá. Arriscou a vida pela amiga, coisa que alguns jovens também fariam. Mas ele, a esta altura já perdera qualquer lucidez. Aos vinte e dois anos, quis matar duas meninas de quinze usando dos máximos poderes de que dispunha: arma e violência.

A polícia fez o que tinha que fazer. Esperou e quando julgou que o risco era extremo, invadiu. Os jornalistas fizeram o que fazem os que vivem da notícia. Noticiaram e questionaram. Alguns foram longe demais. Talvez a sua maneira de noticiar o fato aumentasse o risco. Mas arriscaram.
Mais uma vez, a população ficou sabendo de jovens que ferem e matam quando pais, namoradas ou irmãos não lhe dizem sim. Está cada dia mais comum. Pode ser a pressão da grande cidade. Pode ser a mídia sensacionalista. Pode ser a religião que falhou. Pode ser o excesso de acesso à informação. Sabem mais, namoram mais cedo, mas nem sempre sabem o que fazer com sua liberdade, com a oposição ou com o conflito. A reação de alguns é a de lobos na matilha ou símios contrariados.

O filme daquele pingüim que perseguiu o outro até à morte sob o olhar impassível de milhares de outros pingüins assusta! O fotógrafo que filmou a cena ajudou-nos a refletir. Mostrou que pingüins são engraçados e simpáticos, mas à vezes surtam. Nossos jovens também. Somos hoje uma sociedade violenta. As maiores vítimas são os adolescentes e os jovens que, ou matam ou acabam mortos.

A religião pode ajudar? A não competitiva pode. Mas a que passa a idéia de que o indivíduo foi feito para vencer, só piora o quadro. Saber perder também é cultura, a menos que consideremos o perdão uma fraqueza! Lindenberg parece ter sido derrotado por não ter assimilado a perda de poder sobre sua ex-namorada, nem a grandeza de perdoar. Não deve ter lido João 6,67!
Pe Zezinho scj
Foto: Foto: José Cordeiro/Agência O Globo

Católicos desafiados

É mais fácil deixar de ser católico do que prosseguir numa Igreja atacada por todos os flancos. Não é complexo de perseguição. É fato. Os motivos? Lemos, vemos e ouvimos todos os dias na mídia.
Óvulo, espermatozóide, blastocistos, embrião,feto, fertilização in vitro, Lei de Biossegurança, células-tronco embrionárias, céluas-tronco adultas, aborto, embriões desperdiçados, pesquisas, bioética, clonagem, , ser humano, pessoa, camisinha, pílula, ato criador... tudo isso é fonte de conflitos.
Acusam-nos de não entender estas coisas e de super-simplificar o que é complexo. Ignoram nossos cientistas e estudiosos e acham que só os cientistas deles entendem de vida. Não acham que um cientista possa ser católico. Decidiram mostrar os católicos como inimigos do progresso da ciência e favor da vida. Comparam-nos aos católicos do tempo de Kepler, Copérnico e Galileu Galilei na questão da astronomia. Não admitem que possamos ver tão ou mais longe do que eles…
Virou guerra de mídia. Vence quem mais convence. A verdade fica em outro departamento. Cada um com a sua! Mas que vençam no parlamento os que mais provarem que é preciso favorecer o aborto, a pesquisa com embriões e o desenvolvimento dos novos achados.
O tubo de ensaio outra vez desafia a fé. Quem crê no criador e o vê como o dono da vida admite melhoria da vida, mas não às custas de sacrificar vidas que já começaram. Então os outros dizem que aquele pequeno ser em formação ainda não é humano. A Igreja diz que é.
É, não é, é não é... Concepção, contracepção, gestação, interrupção, inferência, rejeição, extração, intervenção, aborto terapêutico, aborto, abortivos, contraceptivos, pílulas, tudo se torna assunto para acusação, discussão e debate. Até quem nunca leu senão artigos esparsos e apenas ouviu alguém na televisão ousa chamar de ignorante o cientista ou médico católico que se debruçou sobre o assunto por 30 a 40 anos. De repente o telespectador irado sabe mais do que cientistas de 70 anos e 40 de estudos de biologia e bioética.
Eles querem liberalizar e nós queremos que nesse assunto de vida não se vá a ponto de matar para salvar. Eles dizem que não é morte de um ser humano. Nós dizemos que sim. É a guerra dos embriões. Eles querem o direito de usá-los em favor de outras vidas. Nós dizemos que vida concebida é sagrada. É a guerra do sexo. Eles dizem que toda forma de amor é válida. Nós dizemos que não e estabelecemos limites.
A sociedade é democrática. Não tiramos deles o direito de falar. Não aceitamos que tirem o nosso. Nem nós os ofenderemos, nem eles nos ofenderão por conta de um ser que ainda não nasceu. Que falem. Nós também falaremos!

Pe Zezinho scj