O assunto acirrou preconceitos, ódio e agressões. Mas fatos são fatos. É tão anormal deturpá-los ou reduzi-los, quanto fugir deles. De um lado, uma inocente menina de nove anos que, por estupro de um padrasto desqualificado, engravidou e gerou dois fetos indesejados. Prenda-se e puna-se o padrasto salve-se a menina vítima! Os responsáveis teriam que fazer tudo para ajudá-la, menos matar. Matar é proibido por lei moral e jurídica aos católicos e aos brasileiros, embora os juízes e o congresso brasileiro tenham decidido, nestes últimos anos que, em dois ou três casos excepcionais, se possa permitir que uma vida humana em fase inicial seja sacrificada em favor de outras vidas. Foi o que houve no caso da infeliz menina de 9 anos. Na primeira semana de março de 2009, o assunto ganhou as manchetes. Entre os dois fetos de quatro meses que ela nem sequer entendia porque, mas levava, optou-se pela pobre menina estuprada que já terá problemas suficientes por toda a sua vida. Até o presidente da república achou certo. A gravidez foi interrompida. Milhões de brasileiros diriam e fariam o mesmo. Foi decisão compassiva. Mas esta decisão compassiva esbarrou em outra que também teria que ser compassiva. Interrompeu a vida de dois futuros seres humanos indesejados, porque nascidos de um ato de violência. Tinha a menina o direito à inocência e à vida? Tinha. Tinham os dois fetos o direito de viver? Milhões de brasileiros, inclusive os cristãos, disseram e diriam que não.Aqui começa o conflito jurídico, social, político e religioso: matar os que ainda não vemos para salvar de um terrível sofrimento alguém que já vemos e conhecemos. Receio que a maioria dos pais e filhos brasileiros faria isto. No mundo, cerca de 50 milhões de fetos morrem anualmente exatamente por isso. Estão no ventre errado e na hora errada. Quem os concebeu não os quer ou não tem como gestá-los. No Brasil, fala-se em 1 milhão. A verdade é que o mundo não quer todos os bebês que gera. Entre o “não sou obrigado a gerar” e o “você tem que gerar” entra a magna e explosiva discussão do aborto. É a morte conflituosa de um ser humano no seu estágio inicial. Jesus manda atar uma pedra de mó ao pescoço e jogar ao mar alguém que faz o que fez aquele padrasto. É mais do que excomungar. Simbolismo ou não, a fala mostra a gravidade do estupro. (Mt 18,5-6) E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim me recebe. Mas qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo, por causa dos tropeços! pois é inevitável que venham; mas ai do homem por quem o tropeço vier
Mas há o lado dos fetos extraídos. (Mt 18,10-11). Vede, não desprezeis a nenhum destes pequeninos; pois eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêm a face de meu Pai, que está nos céus. Porque o Filho do homem veio salvar o que se havia perdido.
Paulo excomunga um cristão que vivia maritalmente com a madrasta, (1 Cor 5,1-5) e manda a comunidade recebê-lo de volta quando renuncia ao mal que praticou. (2Cor 2,5-11 ) A excomunhão vem de longe. Em 2Cor 13,7-8 diz Paulo: Ora, rogamos a Deus que não façais mal algum, não para que nós pareçamos aprovados, mas que vós façais o bem, embora nós sejamos como reprovados. Porque nada podemos contra a verdade, porém, a favor da verdade. Para os católicos há leis severíssimas contra o aborto. Católico não pode matar ninguém, menos ainda um embrião indefeso. Pedimos o mesmo dos países onde vivemos. A sociedade, então, pela sua mídia nos acusa de intolerância. Que não queiramos nem possamos matar um feto, eles aceitam. Que exijamos deles a mesma atitude, isso não! Querem o direito de interromper um feto, se ele vier a prejudicar quem deseja sobreviver. Tê-lo seria sofrimento e conflito. Interromper sua vida seria solução imediata. Por isso exigem que nos calemos e nos acusam de ultrapassados. Pela mídia, disse o presidente da república que a ciência sabe mais e que a medicina está mais avançada do que a Igreja na questão da vida e das escolhas. De condutor político, faz tempo que passou a condutor moral do povo, inclusive com distribuição de camisinhas no sambódromo. E não faltam os católicos parciais a criticar seus bispos e padres que defendem o feto. Concordam com a Igreja em outros pontos, mas nestes de camisinha, divórcio, aborto e manipulação de embriões, preferem ouvir os outros. Lembro-me de uma senhora que mudou de igreja porque a nossa proibia sua filha de casar-se pela segunda vez. Em três anos estava de volta, ao perceber que a outra igreja não era tão liberal quanto parecia. Lá, podia-se casar duas vezes, mas havia bem menos liberdade do que prometiam. A questão do aborto virou confronto aberto. De políticos e religiosos espera-se diálogo. Mas como dialogar a fundo, se o outro lado já decidiu que embrião ainda não é vida humana e por isso pode ser morto? Nem eles, nem nós abrimos mão de nossas convicções. E então católicos? Cedem eles ou cedemos nós?
22 de março de 2009
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