Bem vindos a este encontro comigo. Espero que também eu seja bem vindo a este encontro com vocês. Serei franco e espero ser compreendido. Venho fazer pensar e não apenas criticar. Mas serei apologético como pede o número 229 do Documento de Aparecida, até porque todas as críticas que fizer servirão também para mim que milito há mais de 40 anos na mídia e na catequese católica.
Diz o número citado:
DOCUMENTO DE APARECIDA Nº 229
HOJE SE FAZ NECESSÁRIO REABILITAR A AUTÊNTICA APOLOGÉTICA QUE FAZIAM OS PAIS DA IGREJA COMO EXPLICAÇÃO DA FÉ. A APOLOGÉTICA N ÃO TEM POR QUE SE NEGATIVA OU MERAMENTE DEFENSIVA PER SE. IMPLICA, NA VERDADE , A CAPACIDAD E DE DIZER O QUE ESTÁ NAS NOSSAS MENTES E CORAÇÕES DE FORMA CALRA E CONVINCENTE, COMO DIZ SÃO PAULO, “FAZENDO A VERDADE NA CARIDADE” ( EF 4,15) MAIS DO QUE NUNCA OS DISCÍPULOS E MISSIONÁRIOS DE CRISTO DE HOJE, NECESSITAM DE UMA APOLOGÉTICA RENOVADA PARA QUE TODOS POSSAM TER VIDA NELE.
O debate precisa começar em casa. Uma sadia correção fraterna e sem ofensas nem melindres certamente melhoraria nossos púlpitos. Hoje, qualquer um pode pregar e dizer o que bem entende que ninguém o questiona. Igreja precisa voltar a questionar os seus catequistas e pregadores. Isso está no Documento de Aparecida como uma das primeiras lições. Sugiro que depois leiam os números 11 e 12 do mencionado documento. Expresso a minha alegria de poder falar a vocês sobre um tema que me tem sido caro desde meus primeiros meses de sacerdote. A catequese me levou ao púlpíto, às revistas, a sala de aulas, ao rádio, à televisão, aos livros, aos CD´s, à Pastoral da Juventude, das famílias e da comunicação. Como o trabalho das mães, a missão do catequista não tem prazo para terminar. Seremos eternamente discípulos missionários, missionários discípulos, discípulos e missionários. Viveremos até os noventa anos se a lucidez no-lo permitir entre o púlpito e a sala de aula: mestres aqui, aprendizes ali.
Falar a estudantes de teologia deveria ser isso: mostrar a carteira onde ela ainda existe e o púlpito, onde ele ainda existe. É aprender questionar e aprofundar os púlpitos, as salas de catequese, os alunos e os pregadores.Mais a estes e menos ao povo. É ali à frente de ouvidos sequiosos que repercute e se amplia a ortodoxia e é também ali que nasce a heresia.
Vamos ao tema. Quando 22 canais de televisão exclusivamente religiosos transitem catequese ao país, quando praticamente 10 famílias compreendendo casal, pais e filhos e cunhados falam a mais de 60 milhões de brasileiros porque a concessão do canal está nas mãos deles, quando d parte de algumas igrejas, roupas caras, ternos alinhados, gravatas, cabelos impecavelmente penteados, e da parte de outras roupas do Século XIII, rica sou pobres, jeans, camisetas ocupam a cena, eles estão querendo vestir sua mensagem. Quando a cada semana aparecem novos óleos, perfumes, pontes da esperança, grutas dos milagres, portais da graça, águas do Jordão, cruzes com terra da Palestina, kits de 13 medalhas alguém está querendo dizer algo através daquele símbolo. Alguém está desenvolvendo uma catequese visual. E o que estão a dizer com seus símbolos? Será que eles sabem porque se parecem com os monges da idade média, pro que raspam os cabelos, por andam de pés no chão ou de botas reluzentes? Se sabem, é catequese. Querem repercutir Jesus daquele jeito. Se não sabem não é! É nova roupagem, mas não é nossa mensagem, troca de aros , mas não troca de lentes para ver melhor.
Ario, Nestório, Donato, Montano, Atanásio, Thomas de Aquino, Duns Scotus, Anselomo de Cantuária falaram de cátedras, de sacadas, de púlpitos e na rua. Falaram ao povo, aos doutos e aos jovens. Formar sacerdotes e leigos fiéis à catequese da Igreja, conhecedores das cruzes e dos sofrimentos que cada dogma custou à Igreja e,em tempos competitivos como os nossos prepará-los para uma catequese apologética serena e firme é missão de todo e qualquer curso de teologia. Alguns de vocês serão licenciados ou doutores. Os outros, mesmo sem títulos, precisarão saber o mínimo necessário para postar-se diante daquelas câmeras e daqueles microfones que são os púlpítos de agora.
Hesíodo, no Século VIII a.C., em Teogonias e em Os Trabalhos e os Dias: pregava aos crentes gregos do seu tempo a sua catequese sobre o valor de crer nos deuses, dos freios morais contra o personalismo e o individualismo. Ele previa um ser humano narcisista, fechado em si mesmo, incapaz de família e de pátria, ocupado demais em fazer dinheiro e aparecer mais do que os outros. Previa que o fim da humanidade, caso não haja mudanças será causado pela egolatria: eu demais!
Paulo, no início da Epístola aos Romanos, em texto sobejamente conhecido de todos vocês, desenvolve uma catequese comportamental , ou seja, uma catequese de atitudes contra o “vale tudo” do seu tempo. Previa castigos e desequilíbrios gigantescos na estrutura da sociedade,. Porque isso se tornara não apenas desvio pessoal, mas se transformara em anti-catequese. Os sujeitos transgrediam e praticavam tudo aquilo e ainda ensinavam e incentivavam a transgredir. Imaginem se Paulo tivesse conhecido os canais de televisão e as marchas e paradas de hoje. Ainda bem que ele tinha Jesus e apesar de ser um homem de opinião e catequista exigente e até durão ele conhecia a fraqueza humana, coisa que nenhum catequista deve esquecer.
O que sugere o documento de Aparecida? A primeira noção que me veio da sua leitura é que os seus autores não nos querem cordeirinhos com o comportamento de manada gnus, arenques, golfinhos e diversas outras espécies. Cem a duzentos mil gnus atravessam as savanas africanas para lugares de pastagens liderados por uns poucos. Atropelam-se nos rios e são comidos por jacarés porque o instinto de chegar às verdes pastagens os leva a antes morrer na boca do jacarés do que a definhar de fome e de sede. Ele não têm pastores! Poucos líderes. São manadas desorganizadas. Seria disso que Ezequiel falava em 34,8 ?
8 Juro por minha vida - oráculo do Senhor Javé: Minhas ovelhas se tornaram presa fácil e servem de pasto para as feras selvagens. Elas não têm pastor, porque os meus pastores não se preocupam com o meu rebanho: ficam cuidando de si mesmos, em vez de cuidarem do meu rebanho
Seria disso que falava Jesus em Mateus 9, 35-37 ? A origem da missão
35 Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade.
36 Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor.
37 Então Jesus disse a seus discípulos: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos!
38 Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita.»
Os arenques, as enxovas, às vezes os golfinhos e as baleias, e pelo menos dez espécies de aves, peixes, cetáceos e animais terrestres assume comportamento semelhante de seguir seus líderes para a morte num penhasco, numa praia, ou rio acima. O que tem acontecido com nossos jovens, vítimas do HIV, da droga,da bebida, do cigarro, da violência, das mais diversas injustiças sociais lembra o grito de Isaias e de Jeremias: faltam pastores e pregadores que façam a diferença. E é disso que se ocupa o Documento de Aparecida, repercutindo a Catechese Tradendae.
Quem irá até eles? Quem interromperá este ciclo de suicídio, perda de referências, de non-sense e de morte? Educar para o encontro consigo mesmo, para a identidade, para o encontro com Cristo e para a conversão é a proposta da catequese que nos vem de Aparecida, com a agravante constatação de que agora, quase 30 anos depois de Puebla temos os meios que não tínhamos ontem, (mais de 300 veículos e 11 canais de televisão) mas ainda não achamos a linguagem. Ainda confundimos novas roupagens como nova linguagem ou pedagogia da repetição com mesmice.
Ainda não sabemos lidar com a riqueza dos símbolos católicos, que são altamente catequéticos, mas indevida ou insuficientemente manipulados sobretudo nas liturgias. Ainda não descobrimos a força da canção na catequese, e a importância de letras cultas ou populares, mas catequéticas, teológicas e doutrinais. Venceu a canção testemunhal, intimista, personalista que celebram os louvores e o encontro pessoal com Cristo, o que é bom , mas não é o suficiente. A canção católica ainda não é catequética. Repete a Bíblia, mas não a elabora, como fazem o CIC e os documentos da nossa fé. Os compositores católicos ainda são intimistas demais para serem catequistas. Põem melodia em textos bíblicos, o que é louvável, mas não colocam melodias nos documentos oficiais da catequese católica. O catecismo é pouco musicado.
Olhem a televisão católica e ouçam as canções que se canta nos templos e me digam se estou certo ou errado. Quantos dos que usam a televisão e a liturgia sabem lidar com os símbolos católicos? Não tem havido na mídia excesso de realce do celebrante em detrimento do realce da comunidade? Para onde os cameramen assestam suas câmeras? Quanto tempo elas ficam no celebrante quanto na assembléia e nos símbolos da fé?
Quem dispuser do Denzinger-Hünermann repasse a lista dos documentos sobre comunicação, sobre liturgia e canção e releia o Documento de Aparecida sob este prisma. Temos os instrumentos. Sabemos usá-los? Esta pergunta precisa ser feita primeiro por nós que já trabalhamos na mídia, depois a vocês que em poucos anos estarão lá, expondo-se, sendo vistos e ouvidos. Dirão o que? Falarão de si ou da Igreja? Lembrarão o testemunho dos mártires, educadores catequistas e confessores desses milênios de fé ou falarão demais de si mesmos, para vender discos, livros e obras que acabaram de escrever? Não cheira a simonia?
Afirmo que a catequese católica hoje no Brasil está excessivamente parcializada. É muito pouco enquirídica , abrangente, aberta ao todo e excessivamente léxica , seletiva, parcializada. Um grande número de catequistas não prega sobre o CIC, sobre a Bíblia e sobre os documentos da Fé e da Teologia Católica e sim sobre si mesmos, seu testemunho pessoal de conversão, ou sobre os temas de seu movimento, ignorando que vai pela Igreja em termos de exegese, novos enfoques teológicos. Vocês são privilegiados porque as editoras vêm aqui oferecer sues livros e os professores os indicam, mas quantos catequistas leigos e até seminaristas têm acesso a essa riqueza de conhecimentos e dela fazem uso quando falam? Prestem atenção aos programas de rádio e de televisão da nossa igreja e vejam e ouçam quantos falam com livros á sua frente, citando-os e recorrendo ás suas anotações? É justo alguém falar a milhões de ouvintes todos os duas coma pena suma Bíblia nas mãos quando o Papa e os Bispos acabaram de emitir mais 10 a 20 documentos em três anos sobre os novos enfoques da fé? Porque não são divulgados? Ou a catequese se reusem a ler Bíblia e comentar sempre do ponto de vista pessoal? Os livros existem! Porque não são lidos?
Sentir, entender, assumir o todo ou parcializar da fé e a catequese? Quero apenas isso de Deus? Vou só até aqui, Fico nesse tipo de fé que recebi do meu movimento preferido? Quero mais? Aceito ir mais fundo? Não me peça mais. Odeio livros, odeio ouvir os outros. Só aceito meu guru, meu pregador ,meu santo, meu catequista. Lê me deixa pra cima. Quem me questiona me deixa deprê!
Tais catequistas lembram o povo hebreu nos dias difíceis da travessia do deserto: Da próxima vez fala-nos tu, Moisés, Não queremos ouvir outra voz. Deus nos assusta.
Renovação da Aliança (Dt 5,23-31 e Dt 4, 32-40)
O Catecismo ( CIC ) propõe que se redijam catecismos locais e isso quer dizer que cada catequista tem que se basear também na catequese da sua diocese que supostamente também deve escrever os seus textos sempre em consonância com o CIC. Algumas dioceses o fizeram. Outras não têm pessoal especializado, mas para tal existem as editoras e as faculdades de teologia. A tarefa é pessoal, diocesana e comunitária.
IMEDIATISMO
O projeto pessoal e o imediatismo são os maiores inimigos da catequese.Falamos do que nos interessa mais do que o que interessa à Igreja. Pregamos o que nos agrada e não o que deve levar à solidariedade e ao mundo mais justo. Escolhemos os temas de acordo com o nosso apetite de pregar e não com a fome do ouvintes.
No últimos 50 anos houve mais de 30 explosões de vulcões com aproximadamente 700 mil vítimas: Peru, Itália, China, Paquistão, Santa Helena, Alaska, Rússia, Estados Unidos. O de Santa Helena matou poucas pessoas porque foi previsto, mas destruiu o equivalente a 500 bombas de Hiroshima. Seria como se uma explosão em Campos do Jordão cobrisse com dez metros de cinzas todo o vale do Paraíba e as praias de Ubatuba e Caraguatatuba e São Sebastião. Alguém lembra isso?
Duas bombas em Hiroshima e Nagasaki arrasaram duas cidades japonesas matando mais de 100 mil pessoas a curto e a longo prazo. Alguém lembra isso? Quem fez as bombas? Cientistas e políticos. Quem mandou jogar? Um presidente poderoso. Quem jogou ? Militares. O que dizem os religiosos de hoje? Alguém lembra isso? Afinal porque pregar sobre algo que aconteceu há 60 anos atrás? Porque ao assunto não interessa? Pregamos verdades que ensinam a vier e a não matar ou manchetes que vendem e que uma vez estampadas e esgotadas não se publica de novo? Porque voltar ao caso Isabela se já deu o que tinha que dar? Mas não mandamos todos os dias as pessoas porem as mãos no coração e entregar o seu coração para Jesus? Repetimos o que nos agrada repetir e omitimos o que não nos agrada lembrar. Mas o critério é o sentimento do catequista ou a doutrina?
Uma onda tsunami em 2004 matou mais de 250 mil pessoas. Quem ainda lembra isso? Quem ainda socorre os que perderam tudo naquela onda? Morreram mais de 40 milhões de pessoas nas ultimas guerras. Quem lembra isso? Povos inteiros foram dizimados e apagados do mapa. Quem prega sobre isso?
A história para muitos pregadores e catequistas parece ter começado com Jesus e depois pulado para hoje ou dois anos atrás. Ignora-se completamente nas pregações o que tem acontecido no mundo desde que estamos vivos. Prega-se sobre o hoje de 24 meses atrás ou o amanhã no céu e ignora-se a cruz e a dor humana de milhares de anos,as mais recentes, as imensas perdas de vidas causadas boa parte dela pela incúria dos governos que permitem que se viva naqueles lugares perigosos e pelos desperdícios de recursos que poderia aliviar aquele sofrimentos.
Os pregadores e cantores preferem acentuar os louvores e a glória do Senhor quando ao acento da cruz, da redenção e da solidariedade às vezes fica em terceiro plano.
Pregamos apenas sobre o que está a um passo dos nossos narizes. Não há perspectiva histórica, Vale mais a parusia do que o dia a dia. E vale mais o dia a dia do que o que aconteceu e o que acontecia. Nosso olhar não é abrangente. Nossa pregação é míope.
Depois de Aparecida precisamos dar o giro de 360 graus à nossa volta para vermos o que acontece no mundo antes de abrimos a boca no púlpito. O mundo sofre. Como acentua o Pe João Carlos Almeida, SCJ, no seu livro tese, sem uma “Teologia da Solidariedade”, é difícil falar em catequese. É que o outro existe e aquele que segundo Karl Barth e Karl Rahner é “o totalmente Outro” só nos aceitará no seu céu se tivermos prestado atenção no limitado e circunstancialmente outro que nos cerca.
Joseph Campbell em o Poder do Mito mostra as catequeses pagãs de incontáveis civilizações , todas elas, de uma forma ou de outra apontando para valores maiores e sonhos de solução das dores do aqui agora. Mostra também as alienações negativas de quem prega sem pregar e não se arrisca a encarar o magno problema da solidariedade. Disso os documentos de Igreja não fogem, nem o de Aparecida. Quem opta por uma catequese sem compaixão pelo pobre e pelo ferido no corpo e na alma o faz por própria conta e risco. Pregador que não ora e não ensina a orar, coloca-se fora da Igreja. Mas também o que não toca nem de leve no social foge à esfera do religioso católico. Nossa Igreja é essencialmente compassiva. Essencialmente compassiva, eu grifo!
Se o Documento aborda em 230 números o tema discípulos e missionários mostrando a importância deste enfoque, aborda em 238 deles os temas comunhão fraterna e comunidade, e certamente mais de 500 vezes a temática: valores, justiça solidariedade, promoção humana, missão que toda ela incide no item compaixão. Ou sofremos junto e nos solidarizamos ou não seremos discípulos e missionários e nossa catequese, por mais gente que arrebanhe, estará fada ao insucesso em poucos anos. Segundo São Paulo só a caridade sobreviverá a esta ordem das coisas. ( 1 Cor 13, 8-13)
Se queremos discípulos para este mundo preguemos uma catequese personalista cheia de promessas e recados do céu agora, já, como fazem os pregadores de rádio e televisão todos os dias. Não são tão modernos quanto parecem. Tiveram predecessores. A catequese da certeza, cheia e marketing do hoje, agora, já é altamente eficaz., Estamos vendo os seus frutos, como já os vimos no tempo de Donato, Ario e Montano que vinham com garantias de céu aqui e depois. As multidões corriam para aqueles pregadores que garantiam que o Espírito Santo e Jesus estavam agindo neles.
Se queremos uma catequese transversal que arrebanha filhos do céu , mesmo que não consigam aqui tudo o que sonham conseguir termos que pregar a justiça, a solidariedade, a transformação e a promoção humana, o levantamento do pobre e do marginalizado, a protagonização do que até hoje foi o último. Mircea Eliade, no seu Tratado da Historia das religiões , livro de História e Filosofia da Religião que imagino que vocês conheçam diz na página 370, número 172 que os símbolos não importa que civilização ou religião os tenha são sempre coerentes e sistemáticos. Abordam a metafísica da ascensão, são ritos ascensionais. Ajudam o ser humano a se tornar ele próprio um símbolo, uma parte do mistério que é o todo. Ele se sente incluído. O símbolo ajuda a buscar uma identidade. Em quem sabe ler os símbolos funcionam em harmonia o sagrado e o profano. Mas não só ele como Joseph Campbell alertam para o abuso do símbolo. É o caso do pregador e do presidente de assembléia ou catequista que não o conhecendo, aplica-o de maneira errada. Inventar partes da missa e criar novas cenas e gestos para as câmeras ou para o marketing da fé demonstra pouca cultura e pouca visão de povo de Deus. Pode ser um desvio gigantesco. Destrói a história, a coerência e o sistemático dos símbolos que sempre demandam gerações para se firmarem. Nem Roma nem Aparecida, nem o Franciscanismo aconteceram num gesto ou numa década. Vem o pregador e inventa um e o joga na liturgia ou na catequese. Pode dar certo e pode ser um pulo no precipício ou um encalhe na praia com milhares de gnus e golfinhos a segui-lo...
Luis Carlos Suzin e companheiros em TEOLOGIA PARA OUTRO MUNDO POSSÍVEL Paulinas, entram outra vez na globalização da solidariedade, da vida e da consciência universal, na questão das linguagens e na grande pergunta sobre qual a intenção de Deus para o mundo criado. È outra vez uma catequese abrangente, tipo medicina preventiva e não paliativa ou apenas curativa. A fé socorre o pobre antes que fique mais pobre e quando o encontra pobre e ferido cuida dele para devolvê-lo a si mesmo e à comunidade como cidadão prestante.
João Paulo II nas suas encíclicas Dives in Misericordia e Redemptor Hominis , retoma o tema do resgate da pessoa e diz nos números 9 e 10 da RH com outras palavras, que aquele que criou se, for preciso recria, como fez o oleiro com o vaso que se quebrou.Restaura.
Karen Armstrong com sua história comparativa das três grandes religiões do mundo em dois livros Uma História de Deus e Em Nome de Deus, aborda as catequeses dessas religiões que em alguns casos acertaram e em outros deixaram a desejar grandemente na questão da catequese solidária quando fizeram o jogo do opressor para não perder espaço político.
Karl Jung, Karl Sagan, Daniel Dennet confessos ateus ou agnósticos reconhecem o valor da religião por causa dos seus símbolos. Se os pregadores todos passassem por uma catequese dos símbolos errariam menos. O Documentos de Aparecida chama atenção para isso quando fala da comunicação, da mídia e do seu uso. Repete o que já foi dito no ano 2.000 dia 4 de junho sobre a Ética nos Meios de Comunicação.
Estudiosos ateus e cristãos, sobretudo nos tempos de mídia poderosa mergulharam de cheio no mistério de Deus, da procura de Deus, das perguntas e respostas dos povos, dos indivíduos que o buscaram e dos traços de Deus na História e acharam mais os traços deixados pelo homem à procura de Deus do que os de Deus à procura do homem. Incidiram no sociológico da fé. Tanto a busca como a revelação deixaram marcas. A catequese, por definição, é uma repercussão. Ainda hoje vamos lá ver os vestígios do Vesúvio, do Etna e do Santa Helena. A história humana está permeada de explosões de busca por Deus e da ação de Deus na História. A nossa época é uma dessas décadas cheias de erupções chamadas seitas, novas comunidades, novos movimentos religiosos e novas igrejas, tanto entre os muçulmanos, como entre os cristãos. Em cada esquina explode um novo templo, ou um novo programa de televisão, com alguém a dar uma nova mensagem, que desta vez, será a verdade mais verdadeira.
Filósofos da religião, historiadores da fé, teólogos, antropólogos, exegetas foram fundo para que o catequista simples e de poucos estudos tenha elementos para ensinar o fiel a refletir sobre todas a mensagens que recebe e colocá-las nas devidas pastas do seu saber e do seu viver. O nosso é um tempo de catequeses erráticas e emotivas, feitas por pregadores erráticos e emotivos, alguns deles histéricos, irados e ameaçadores. Mais do antes é preciso que o fiel evangelizado por catequistas serenos conheça o dom do discernimento.
Não basta ser discípulo, tem que ser discernido. Discípulo que não engole tudo , porque pergunta e quer saber por que! Além do mais uma das novidades do Documento de Aparecida é a proposta de uma catequese apologética madura do tipo Eu não ofendo, mas eu me defendo! O modo como estão falando contra nós na mídia secular por nossa defesa intransigente dos nossos valores e a catequese agressiva de algumas igrejas que não hesitam e dizer que não somos da luz e que estamos errados há séculos e eles certos há trinta anos, nos empurra para uma catequese mais explicitadora e apologética. Somos chamados a explicar nosso catolicismo na mídia, se preciso, em debate sereno.
Essa é mais uma novidade no documento de Aparecida. Discernimento! São muitos os nomes dos pensadores que nos ajudaram a ajudam a discernir, virtude sem a qual nenhuma catequese é lúcida. Conhecemos, mais ou menos de ouvir falar, uns quinhentos. Os livros nos mostram dezenas de milhares que se ocuparam da catequese, seja como filósofos, antropólogos, teólogos ou comunicadores da fé. Eles ou ajudam ou atrapalham o pregador popular. Certamente mais ajudam do que atrapalham porque provocam o pregador sem muito estudo e avesso a leituras a pensar melhor no que afirma: que Deus lhe disse alguma coisa naquela semana...
Uma igreja sem pregadores populares seria um fracasso, mas sem os teólogos, com seus 30 a 40 anos de pesquisas, seria um fracasso ainda maior. Seria uma igreja sem conteúdo e sem profundidade, com gente sem catequese ou leitura, repetindo palavras de ordem e slogans, mas quase nenhuma teologia! Foi isso o que Dietrich Bonhoeffer, um mártir judeu, vítima do nazismo, disse em Cartas da Prisão a respeito dos nazistas: viviam de repetição e de frases feitas. Não pensavam; repetiam palavras e frases pré-fabricadas.
Atanásio, Jerônimo, Tertuliano, os já citados Ario, Donato, Montano, Efrém Thomas de Aquino, Alberto Magno, Lutero, Henrqiue VIII, Calvino, Karl Barth e Karl Rahner, Edward Schillebeeckx, Hans Ur von Blathazar, Hans Kung, José Ratzinger,Dietrich Bonhoeffer, Rudolf Bultmann, Martin Buber Leonard Boff, Gustavo Gutierrez, Hugo Assman, Roger Haight marcaram os eu tempo e forma marcados por suas disputas teológicas. O que há em comum neles embora de comportamento e respostas tão diferenciadas?
Sabiam que estavam errados? Não sabiam? Não perceberam aonde iria dar a sua disputa pelo certo sobre a fé? Eram sinceros? Não eram? Suas vidas nem sempre combinaram com sua catequese? Com alguns tudo tinha que ser do jeito deles. Eram polemistas e agressivos. Outros eram suaves ou fortes, dialogantes ou provocadores. Todos fizeram catequese, todos lutaram por seu ponto de vista. Todos pagaram o seu preço, todos fizeram adeptos e seguidores,q eu em alguns casos foram mais longe do que seus mestres.
Catequistas um contra o outro e um com o outro, mostram que a catequese suscita paixões. Outra vez convém citar o 229 de Documento de Aparecida. Debater é preciso, pois não é justo que qualquer um despreparado use aqueles microfones e diga o que lhe vem na cabeça, jogando a catequese de volta aos anos 30 ou 40, quando a Igreja fez enormes conquistas no campo da psicologia e da sociologia da comunicação e da catequese.
Não tenham medo e evangelizar. Isto supõe algum conflito fraterno porque pede uma certa apologética que o número 229 propõe que seja usada. O Documento fala de conversão pessoal e conversão pastoral. E a conversão dói primeiro no pregador, que precisa, segundo a feliz mística dos comunicadores Paulinos e Paulinas: viver em contínua conversão.
Teremos, sim, que mudar nossa comunicação e nossos métodos; controlar mais os nossos comunicadores na mídia. Final,m falam em nom da nossa Igreja. Que certificado ou diploma receberam para pregar o que pregam? Alguns estão lá como os porteiros de hospital que na falta de médicos andam passando receitas e operando o povo. Não estudaram catequese o suficiente para estar onde estão. Boa vontade e unção apenas, não bastam. É preciso um mínimo de conhecimento; Não precisam ser doutores mas precisam ser leitores. O pior acontece quando quem não sabe catequese ou teologia decide quem pode e quem não pode falar na emissora de rádio por ele ou por ela dirigida. Precisamos de coragem e discernimento para brigar pelo conteúdo da nossa catequese. No papel ele existe. Na realidade ele está nas mãos de muitos pregadores não catequistas. Exija-se um curso de catequese de cada um que trabalha na mídia. Como se exige da enfermeira ou do técnico de computação.
A vocação discípulo-missionário supõe esta humildade de aprender conteúdos e técnicas. Nem só um nem só o outro. A catequese vai doer em vocês como dói nos nossos povos. A Palavra suaviza, mas corta e dói. A Nova Evangelização está indo devagar demais por culpa de nossa incapacidade de aprender ou de nos deixarmos corrigir. Em alguns lugares é imprudente demais. Não estamos vendo ainda o rosto de Cristo no povo latino americano. Ainda falta muito a catequese de conversão e a de doutrina social nas nossas transmissões. O problema está da nossa ótica e não do rosto do nosso povo. Quando só vemos o que queremos acabamos pregando o que queremos e não o que vimos.
O fato é que a partir do número 226 , lemos que, como catequistas, precisaremos de mais experiência religiosa; mais vivencia comunitária, mais formação bíblico-doutrinal , mais compromisso missionário e mais diálogo ecumênico PARA QUE O MUNDO CREIA. Nenhuma dessas propostas é fácil.
Reabilitar a autêntica apologética ( 229 ) será um martírio corajoso. Teremos que rememorar quem deu a vida e a entregou pelo Reino. Teremos que assumir uma catequese mais provocadora e mais profunda contra uma catequese light. Ser contemplativo e estudioso da fé exige muito mais martírio. A proposta é melhorar a catequese de iniciação, a catequese contextualizada que respeita os processos nº 281, a catequese de acompanhamento, e isto exige um mínimo de cultura do catequista, porque cultura subentende estudo cansativo e presença de risco. Se dói no povo, que doa em nós. A nós não é permitido ficar comendo pipoca diante da televisão em confortáveis poltronas quando a Igreja nos convoca para ir lá onde alguém está pedindo mais água e mais esgoto. Não se adquire cultura apenas tocando violão e dançando com o povo. Temos que estudar este povo. Será uma catequese cheia de iniciativas, mas obediente ao todo da Igreja
A proposta é evitar o sectarismo perigoso, a parcialização da fé que só lê o trecho documento que nos agrada e omite os outros trechos da CNBB ou do Papa que nosso grupo não vê como urgente para nós. Também somos chamados a viver a exigente e humilde catequese de diálogo ecumênico. Somos chamados ao uso correto, não personalista e equilibrado da mídia, fugindo ao estrelismo e à tentação de individualismo exagerado onde se privilegia mais o projeto pessoal que o da Igreja, da diocese ou da Congregação à qual aderimos. Como podem ver, estamos numa nova fase da Comunicação da Fé Católica no Brasil. A proposta foi feita. De nós depende levá-la a sério ou prosseguir no que sempre fizemos, sem conversão pessoal ou pastoral. Mas aí não seríamos discípulos e missionários! Estaríamos em campo, indiferentes ou contrariados e vestindo camisa de outro time!
Pe Zezinho, scj
29 de novembro de 2008
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