Quando o noticiário das 8h mostrou duzentas pessoas se abraçando em defesa dos enfermos com doenças degenerativas, mas não mostrou 10 mil da semana anterior orando e discursando em defesa do embrião; quando mostrou o doente na cadeira de rodas pedindo a liberação do uso das células tronco de embriões, mas não mostrou o embrião sacrificado; quando outra vez mostrou as lágrimas de uma senhora que pedia em nome do seu filho enfermo o direito á pesquisa na qual o embrião humano morre, e, a seguir, apenas falou dos bispos reunidos que condenam tais experiências, mas não entrevistou nenhum deles, aquela mídia prestou um desserviço: salientou a dor de quem quer a busca de uma solução para os seus enfermos, mas não mostrou a palavra de quem também quer a busca de uma solução para os enfermos, mas não à custa da morte de um embrião humano.
Quem editou a reportagem deixou claro de que lado estava: não foi imparcial. Assim, os que buscam um caminho de solução para os seus enfermos, ainda que causando a morte de embriões, parecem vítimas inocentes, enquanto os que também querem soluções, mas não com a morte de embriões humanos parecem algozes, insensíveis e maus. Falam de nós como se também não tivéssemos enfermos em algumas de nossas casas.
Eles são as vítimas porque procuram ajudar algum doente adulto, mas admitindo a morte de uma vida humana menor do que uma unha, enquanto nós parecemos carrascos porque propomos outras maneiras de pesquisar com células-tronco, sem eliminar uma vida. Somos apontados como cruéis porque defendemos a vida do pequeníssimo ser humano já concebido.
Apontam-nos como culpados por defender uma vida menor do que uma cabeça de alfinete ou uma unha, mas vida humana; culpados por querer outra solução na utilização das células-tronco, solução que já se vai descobrindo, culpados por não ceder na defesa da vida humana já concebida e do óvulo humano já fertilizado. Culpam-nos por imaginar este ser crescido e adulto a agradecer os juizes, os congressistas, os médicos, os pais e os religiosos que lutaram por ele, quando ele era apenas um ser nos primeiros dias de formação, mas alguns já queriam sua morte para que outros vivessem.
Culpem todos religiosos de todas as igrejas que acreditam na alma, no embrião, no feto e no futuro. É isso o que supostamente uma religião deve fazer. Nós não culpamos quem quer uma solução rápida para os seus enfermos, mas achamos que não se pode seguir pelo caminho da morte do embrião. Se o enfermo tem o direito às pesquisas, o embrião humano tem o direito à vida e ao futuro.
Quanto ao embrião que não teria futuro, porque foi congelado, eles querem livre acesso a ele. E nós dizemos que se o querem é porque tem vida. Se ele tem que morrer, então somos contra. Então nos brindam com adjetivos nada agradáveis. Nós que também temos enfermos, eu que tive pai e parentes com doença degenerativa, talvez não mereçamos tais adjetivos.
Se eles são apenas seres humanos cheios de compaixão, que desejam vida melhor para os seus enfermos, nós também temos compaixão dos enfermos deles e dos nossos, porque também temos hospitais e somos milhares que vão lá minorar as dores alheias. Acontece que a nossa compaixão também se estende ao embrião que ainda não fala, mas pode falar daqui a dois anos!
Aplica-se a compaixão para com quem não anda ou não viveria muito tempo sem as pesquisas e as possíveis soluções do uso do embrião, e não se mostra nenhuma compaixão para com o embrião que pode ser alguém como nós? Falam do embrião marginal, o que nunca será um ser humano porque os pais não o querem e seu óvulo fertilizado que virou embrião está guardado numa clínica. Querem o direito de usá-lo. Seguindo a lógica, o que farão com os anciãos de asilos nos últimos dias de vida e com os pobres que dormem debaixo de viadutos? Parece que também ninguém os quer... Não quererão também usá-los para pesquisa, já que foram abandonados ali? Estamos falando de cura ou de eugenia? O ser humano tido como inferior deve ajudar o ser humano superior ferido? É assim que se faz uma sociedade sadia? São perguntas incômodas nascidas da guerra pró e contra o uso do embrião humano! Mas precisam ser feitas!
Pe Zezinho scj
28 de maio de 2008
18 de maio de 2008
Aos que mudaram de Igreja
Não faz muito tempo, pus-me a pensar nos meus irmãos que foram embora do catolicismo. São milhões. Pensei também nos que vieram embora do protestantismo e do pentecostalismo. Não são milhões, mas é um número significativo.
O que os levou para lá? O que os trouxe para cá, se todos dizem que se trata do mesmo Deus, do mesmo Pai e do mesmo salvador Jesus Cristo? Eu diria, entre mais de vinte razões que conheço, que sentir-se alguém lá ou aqui, a noção de permitido e proibido o ângulo de visão e o enfoque respondem pela maioria das opções de ir ou de vir.
Perderíamos a perspectiva e estaríamos sujeitos a sermos julgados por Jesus na mesma medida (Mt 7,1) se nos puséssemos a julgar estes irmãos e estas irmãs que por razões que só elas sabem quais foram, não quiseram mais adorar, cultuar, pensar, cantar, orar e caminhar conosco nos nossos templos. Nossos irmãos evangélicos e pentecostais correriam o mesmo risco, se começassem a julgar os que não quiseram mais caminhar com eles nem pensar ou orar como eles fazem e vieram para o catolicismo.
Pedro, André, Tiago, João, Bartolomeu e os outros e, mais tarde, Paulo continuaram judeus e amando o seu povo, mas decidiram crer que Jesus era o Messias prometido. Apostaram sua vida nessa direção e morreram por esta verdade.
No caso de quem foi para outra igreja ou veio para a nossa, mais do que as doutrinas ou dogmas que sustentam vai valer o modo com tratam os outros. Seremos julgados não pelo nosso modo bonito de dizer “Senhor, Senhor”, de fechar os olhos e entrar em êxtase, e sim, pelo modo bonito de querer bem as pessoas, mesmo aquelas que não comungam mais das nossas preces ou idéias.
São milhões os que nesses últimos 40 anos mudaram de religião, ou, dentro da religião cristã, mudaram de igreja e de enfoque. Eles agora crêem de um jeito que ontem não sabiam nem admitiam. Uns deixaram para trás muitas crenças de ontem. Outros assumiram ou reassumiram, numa dimensão mais adulta, as crenças que há quinze anos tinham abandonado.
“Criação, evolução, povo de Deus, anjos, visões, revelações, aparições de anjos ou de santos, julgamento final, volta de Cristo, reencarnação, céu, inferno, purgatório, intercessão, último dia, ressurreição da carne, perdão dos pecados, ação do Espírito Santo, dom de línguas, eucaristia, santos, imagens, o papel de Maria, predestinação, eleição, perdão de pecados, penitência, culpa e reconciliação”... e dezenas ou centenas de outras afirmações e doutrinas hoje dividem muitos cristãos. Um crê nisso e outro naquilo, um de um jeito e outro de outro. E todos acham alguma passagem bíblica para garantir que o seu grupo religioso está mais certo do que o outro.
Há os mais agressivos: ofendem, brigam, chutam símbolos, queimam livros e atacam. Entendem-se tão certos que arriscam ser condenados por Deus, ao julgar o irmão de outra fé e até mesmo afirmar que os de outra religião têm o demônio na mente ou estão nas trevas. Julgam, sabendo que Jesus disse que seriam julgados pelo que falassem contra seus irmãos. Mas arriscam. ( Mt 7,1-3)
Há os gentis que discordam, mas respeitam. Olham o céu, a terra, o perdão, a graça e a vida com outras lentes e de outro ângulo, mas respeitam o jeito e a visão dos outros. Não acham que suas igrejas são melhores só porque estão cheias de novos adeptos. Ficam felizes, mas não chegam ao extremo de achar que números fazem uma igreja mais santa que a outra. Neste caso, teriam que dizer que a Igreja Católica no Brasil é mais santa do que a deles porque, bem ou mal, ainda somos 74% dos brasileiros. O número e o crescimento não fazem uma igreja boa. É o modo como seus fiéis vivem e respeitam os outros que dá uma idéia do valor essas pregações e das suas preces.
Ligo a televisão e o radio, ouço as canções e o discurso dos católicos, cada qual com os seus enfoques, dos evangélicos das mais diversas procedências, dos pentecostais, do neo- pentecostais, também eles com os seus mais diversos enfoques e suas ênfases e vejo como as igrejas estão marcadas pelos seus pregadores. Sempre estiveram. Montano Donato, Ário, Eutíquio, Atanásio, Crisóstomo, Agostinho, Nestório e mais tarde Wycliffe, Calvino, Huss, Lutero eram pregadores fortes que arrastaram milhões de fiéis para o seu lado da fé. Seus fiéis pensaram não necessariamente como Cristo pensava, mas como os pregadores diziam que Cristo pensava.
As coisas não mudaram muito. A maioria dos convertidos para uma igreja ainda se convertem primeiro para os argumentos do pregador e só depois para o Cristo que o pregador anunciou. Mas acabam pensando do jeito que o pregador pensa. Ou trocam a palavra do padre pela do pastor ou a do pastor pela do padre. Muitos nem sequer lêem mais nada. Dependem do que seu pregador predileto diz na pregação de quarta feira ou de domingo.
Relevância é um ponto fundamental na mudança de religião. Sentir-se chamado, escolhido e eleito para conhecer novos mistérios ou a verdade de um jeito melhor e mais verdadeiro é o que leva alguém para outra religião. Quem fez a mudança deve ser respeitado, quer vá para lá, quer venha para cá. A agressão e as ameaças não funcionam. Vale a graça. E esta é Deus quem dá, por mais que o pregador se ache no direito de decidir quem a tem e quem não a possui.
Feitas as contas, os caridosos definem uma igreja. Quem, depois da sua conversão, não sabe conviver com quem crê ou pensa diferente dele, na verdade não se converteu: apenas mudou de tribuna para pregar os seus preconceitos. Deixou de pecar num templo e foi pecar no outro. Não conseguiu ser santo aqui e não está conseguindo ser santo lá. Não entendeu que converter-se é mais do que mudar de igreja: é mudar de vida.
É bem isso o que ainda não aconteceu com muitos convertidos. Eram bem menos prevalecidos e agressores, quando estavam do lado de cá. Agora que dizem ter Jesus, acham-se no direito de ofender com palavras e atitudes até cruéis os que ficaram na sua antiga igreja. Entregar-se a Jesus é mais do que isso que eles andam fazendo. Já ouviu alguns programas de radio na madrugada?
O que os levou para lá? O que os trouxe para cá, se todos dizem que se trata do mesmo Deus, do mesmo Pai e do mesmo salvador Jesus Cristo? Eu diria, entre mais de vinte razões que conheço, que sentir-se alguém lá ou aqui, a noção de permitido e proibido o ângulo de visão e o enfoque respondem pela maioria das opções de ir ou de vir.
Perderíamos a perspectiva e estaríamos sujeitos a sermos julgados por Jesus na mesma medida (Mt 7,1) se nos puséssemos a julgar estes irmãos e estas irmãs que por razões que só elas sabem quais foram, não quiseram mais adorar, cultuar, pensar, cantar, orar e caminhar conosco nos nossos templos. Nossos irmãos evangélicos e pentecostais correriam o mesmo risco, se começassem a julgar os que não quiseram mais caminhar com eles nem pensar ou orar como eles fazem e vieram para o catolicismo.
Pedro, André, Tiago, João, Bartolomeu e os outros e, mais tarde, Paulo continuaram judeus e amando o seu povo, mas decidiram crer que Jesus era o Messias prometido. Apostaram sua vida nessa direção e morreram por esta verdade.
No caso de quem foi para outra igreja ou veio para a nossa, mais do que as doutrinas ou dogmas que sustentam vai valer o modo com tratam os outros. Seremos julgados não pelo nosso modo bonito de dizer “Senhor, Senhor”, de fechar os olhos e entrar em êxtase, e sim, pelo modo bonito de querer bem as pessoas, mesmo aquelas que não comungam mais das nossas preces ou idéias.
São milhões os que nesses últimos 40 anos mudaram de religião, ou, dentro da religião cristã, mudaram de igreja e de enfoque. Eles agora crêem de um jeito que ontem não sabiam nem admitiam. Uns deixaram para trás muitas crenças de ontem. Outros assumiram ou reassumiram, numa dimensão mais adulta, as crenças que há quinze anos tinham abandonado.
“Criação, evolução, povo de Deus, anjos, visões, revelações, aparições de anjos ou de santos, julgamento final, volta de Cristo, reencarnação, céu, inferno, purgatório, intercessão, último dia, ressurreição da carne, perdão dos pecados, ação do Espírito Santo, dom de línguas, eucaristia, santos, imagens, o papel de Maria, predestinação, eleição, perdão de pecados, penitência, culpa e reconciliação”... e dezenas ou centenas de outras afirmações e doutrinas hoje dividem muitos cristãos. Um crê nisso e outro naquilo, um de um jeito e outro de outro. E todos acham alguma passagem bíblica para garantir que o seu grupo religioso está mais certo do que o outro.
Há os mais agressivos: ofendem, brigam, chutam símbolos, queimam livros e atacam. Entendem-se tão certos que arriscam ser condenados por Deus, ao julgar o irmão de outra fé e até mesmo afirmar que os de outra religião têm o demônio na mente ou estão nas trevas. Julgam, sabendo que Jesus disse que seriam julgados pelo que falassem contra seus irmãos. Mas arriscam. ( Mt 7,1-3)
Há os gentis que discordam, mas respeitam. Olham o céu, a terra, o perdão, a graça e a vida com outras lentes e de outro ângulo, mas respeitam o jeito e a visão dos outros. Não acham que suas igrejas são melhores só porque estão cheias de novos adeptos. Ficam felizes, mas não chegam ao extremo de achar que números fazem uma igreja mais santa que a outra. Neste caso, teriam que dizer que a Igreja Católica no Brasil é mais santa do que a deles porque, bem ou mal, ainda somos 74% dos brasileiros. O número e o crescimento não fazem uma igreja boa. É o modo como seus fiéis vivem e respeitam os outros que dá uma idéia do valor essas pregações e das suas preces.
Ligo a televisão e o radio, ouço as canções e o discurso dos católicos, cada qual com os seus enfoques, dos evangélicos das mais diversas procedências, dos pentecostais, do neo- pentecostais, também eles com os seus mais diversos enfoques e suas ênfases e vejo como as igrejas estão marcadas pelos seus pregadores. Sempre estiveram. Montano Donato, Ário, Eutíquio, Atanásio, Crisóstomo, Agostinho, Nestório e mais tarde Wycliffe, Calvino, Huss, Lutero eram pregadores fortes que arrastaram milhões de fiéis para o seu lado da fé. Seus fiéis pensaram não necessariamente como Cristo pensava, mas como os pregadores diziam que Cristo pensava.
As coisas não mudaram muito. A maioria dos convertidos para uma igreja ainda se convertem primeiro para os argumentos do pregador e só depois para o Cristo que o pregador anunciou. Mas acabam pensando do jeito que o pregador pensa. Ou trocam a palavra do padre pela do pastor ou a do pastor pela do padre. Muitos nem sequer lêem mais nada. Dependem do que seu pregador predileto diz na pregação de quarta feira ou de domingo.
Relevância é um ponto fundamental na mudança de religião. Sentir-se chamado, escolhido e eleito para conhecer novos mistérios ou a verdade de um jeito melhor e mais verdadeiro é o que leva alguém para outra religião. Quem fez a mudança deve ser respeitado, quer vá para lá, quer venha para cá. A agressão e as ameaças não funcionam. Vale a graça. E esta é Deus quem dá, por mais que o pregador se ache no direito de decidir quem a tem e quem não a possui.
Feitas as contas, os caridosos definem uma igreja. Quem, depois da sua conversão, não sabe conviver com quem crê ou pensa diferente dele, na verdade não se converteu: apenas mudou de tribuna para pregar os seus preconceitos. Deixou de pecar num templo e foi pecar no outro. Não conseguiu ser santo aqui e não está conseguindo ser santo lá. Não entendeu que converter-se é mais do que mudar de igreja: é mudar de vida.
É bem isso o que ainda não aconteceu com muitos convertidos. Eram bem menos prevalecidos e agressores, quando estavam do lado de cá. Agora que dizem ter Jesus, acham-se no direito de ofender com palavras e atitudes até cruéis os que ficaram na sua antiga igreja. Entregar-se a Jesus é mais do que isso que eles andam fazendo. Já ouviu alguns programas de radio na madrugada?
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