5 de dezembro de 2008

A sopa, a concha e o caldo

A história é curta, mas provoca. E como algumas das histórias de Jesus têm o intuito de provocar. Lembra-se das parábolas do fariseu e do publicano e do bom samaritano? Eram provocações. Jesus se referia a um tipo de religioso que precisava repensar as suas atitudes.
Numa comunidade que recebia os pobres às 18 h, para o sopão do dia, havia seis voluntárias que serviam os mais de 80 pobres que vinham ali buscar a sua sobrevivência. As latas dos pobres eram grandes. Nelas cabiam quatro a seis conchas. Levavam para suas casas. O panelão tinha quase 60 centímetros de altura. Era sopa de conteúdo, com grandes nacos de carne, costelas, batatas, repolho, deliciosa e substanciosa.

Cinco das voluntárias mergulhavam as conchas no panelão e serviam aos pobres a sopa grossa, plena de conteúdo. Uma delas, porém, não se sabe por que razão recusava-se a servir pedaços grandes aos pobres.

Era toda light e acreditava em dieta light. Para ela uma sopa valia pelo caldo. Afastava nacos e os pedaços e servia a sopa rala. Não havia como convencê-la. Se alguém da equipe se distraía, lá estava ele servindo aos pobres apenas o caldinho. Foram tantas as reclamações que a equipe a tirou daquela função.

Na pregação há padres e leigos que cometem o mesmo erro. Poderiam dar um conteúdo mais profundo, porque livros e documentos os há em abundância nas livrarias, estantes e bibliotecas. Mas não há como convencê-los. Não lêem, não anotam, não preparam. E lá estão eles, repetindo sempre os mesmos chavões, dando a mensagem suave e gostosa de ouvir, com as mesmas palavras de todo o sempre, porque se recusam a dar o conteúdo sólido da fé. Só falam ao espírito e do espírito. Estão ali para salvar almas. A política é para outros o para depois. Eles apenas, apenas, apenas, apenas e outra vez apenas anunciam a conversão pessoal e o encontro pessoal com Cristo.

Não peça para pregarem doutrina social porque não farão isso. Sentem-se deslocados tendo que comentar uma Gaudium et Spes, uma Mater et Magistra, uma Populorum Progressio ou uma Solicitudo Rei Socialis. Aquilo é coisa do passado. A onda agora é o espiritual porque dizem que o social não levou a nada. Não mesmo! Aqueles mártires e o silencio doloroso de centenas de bispos terão sido sacrifício inútil, ou veremos suas luzes daqui a alguns anos, quando o discurso das igrejas de resultado, do sucesso e da mais valia mostrar sua falácia? Não vai mostrar? Mateus 7.15-28 e 25,31-46 valem ou não valem?

Como estudar parece que lhes faz mal, acham que o povo não precisa do que eles não querem. Parecem o garçom que se recusa a servir uma comida com a qual não se dá bem. Vale apenas o que ele come e não o que o povo precisa e quer comer!...

Pe Zezinho, scj

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