A menina era jovem, 17 anos, bonita, saudável, filha muito amada, pai falecido, mãe cuidadosa e presente. Tinha dois irmãos. Um dia, nunca se soube por que, encantou-se por um rapaz de 23 anos, bandido, líder de gangue, que mexia com desmanche e tinha costas quentes na cidade. Não havia como prendê-lo e também não adiantava denunciá-lo. Mas ela gamou. Também ela nunca soube explicar por que, uma vez que admitia que ele era mau caráter e bandido. Não houve jeito.
Falei o que sabia e como sabia, oramos, a mãe chorou, orou, falou, mas a menina foi morar com ele. Nunca mais manteve contato com a família, menos ainda comigo. Ele a ameaçava. Dois anos depois o arquibandido a deixou na porta da casa da mãe, em petição de miséria. Estava com HIV. Contraíra dele. Fui chamado. Conversamos. Naquele tempo o tratamento era quase que impossível. O hospital não tinha recursos. Ameacei deixar a menina em um leito, na porta do hospital, se não dessem atendimento. Deram, mas devolveram-na, dizendo que não tinham o que fazer por ela. Voltou para morrer.
A mãe fez o que sabia. Cuidando dela com luvas. Quando ela sentiu que morreria pediu o crucifixo que eu carregava. Tirei-o e o coloquei-o no seu pescoço. Falamos sobre eternidade, sobre erros, arrependimentos e sobre perdão. Eu disse a ela que dois anos de erros não precisam ser uma eternidade de erros. Morreu serena. O rapaz sobreviveu seis meses, mas morreu também ele da mesma doença. Era toxicômano.
Conto essa história que faz parte de milhares de outras, para lembrar que, às vezes, as pessoas não têm controle sobre suas paixões. E algumas paixões por mais claro que seja o risco, são mortais. Ela quis uma vida efêmera com ele. Sabia dos tóxicos. Mas preferiu morrer ao lado dele a viver sem ele. Há coisas que não é possível explicar. A gente lamenta e tenta compreender. Quando me lembro deles eu oro. Esses dias passei perto da casa dela. A mãe vendeu a casa e mudou. Orei para que ela esteja vivendo uma eternidade perdoada e feliz. De lá, onde ela está, imagino que também ore por mim.
Orei também por ele, que matou algumas pessoas e foi responsável pela morte de muitas outras com o seu comércio de drogas. Espero que tenha sido perdoado, porque aqui neste mundo, ele não fazia questão nem da opinião dos pais nem da opinião de Deus.
Pe. Zezinho,scj
11 de agosto de 2009
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